segunda-feira, 16 de novembro de 2015

 
 
                                 "Bisogna cambiare tutto per non cambiare niente”
                                  Gattopardo, 1963
Não muito tempo, depois de ter aberto a porta a relações muito bem arranjadas, cuja existência é regulada por costumes indiscutíveis, descobri a chatice que é contribuir para este enredo, com gosto de democracia apagada.
 Sempre que tenho que decifrar a pequenez, é porque estou diante de coisas á altura de nada. Há muita amabilidade nestas pessoas mas  nada de paixão. Estão cheios de medos; da violência do silêncio, do sono, da rebeldia das palpitações do coração, das formas que ameaçam desmanchar-se, de todos os motivos da infelicidade. Não aprenderam grande coisa.
 E para mim, sem fantasia não existem verdadeiros rostos das verdadeiras histórias. Aquelas que, até hoje, ficaram pela obrigação de não esquecer. Os exageros, são os melhores remédios. Como uma ouvinte calma assisto, ás mudanças feitas pela mesma massa , por protagonistas que conseguem ceder a prazeres distraídos sem abusos nem culpas, ao mesmo tempo que assumem as responsabilidades de todos os momentos.
 As paixões, têm esta violência que resiste ao tempo, são atitudes para quem teve mais que uma modesta educação e não precisam de tirar partido da ultima moda. São representantes adequados de um futuro radioso em que ninguém acreditada. Maldades dos bem crescidos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                                        
 
 
 
 
 

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

 
 

   História de quem Fica

Vi, várias peças de fim de colecção que adorei.  São os meus partidos de interesse, coisas que se notam e  que, em tudo resistiram ao tempo, prometendo a quem as encontra , sinais de um futuro radioso. As peças de fim de colecção foram capazes de tirar partido de todas as modas e continuarem a ser um momento significativo. Peças únicas, que fazem pensar, numa certa eternidade. Nada têm, a ver, com princípio do fim.

 Podemos ser educados para tudo, até para desejar coisas e pessoas assim, umas violências que resistiram no tempo e  que,  mantêm abertas as portas da nossa alegria, com a possibilidade de resolver os próximos anos das nossas exigências, ao ponto de lhes fazermos dedicatórias.
 As peças únicas, têm a promessa de querer alcançar sempre um futuro radioso, são o começo de um abrigo, uma juventude bem crescida em que nada, está fora de produção. Ainda.
 Podem ser a vida certa, e para isso, que se, expiem as mazelas fechadas que impedem  de termos  destes corações tão vivos, o  que  já foi,  muito usado,  visitado e assombrado  pela   beleza , pela luxuria e por  outras coisas. As peças únicas, nunca serão roupas modestas, o seu uso não se limitou aos rituais domésticos. Como  outras.

 

 

 


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

  

                              O Decor

                                       ( Hotel Budapeste , Wes Anderson , 2014)

 O Decór, é um incitamento feroz. Este, é um assunto que não relativizo, se pudesse, revivia vezes sem conta áreas estéticas onde já fui feliz, quase como aqueles ratos que carregam e carregam num pedal ligado aos seus centros de prazer e só param quando morrem. Quero dizer, que não tenho a mais pálida tendência abstémica quando estou perante a possibilidade de habitar e assimilar uma atmosfera que me agrada.

 Decor que se queira , é sempre um ponto de referência e convida  a viver o que ficou longe da tragédia da banalidade inocente. Ali, partes individuais do nosso corpo vão para paraísos diferentes.

 Os cenários são vários; alguns excêntricos com corredores intrigantes, outros majestosos com salões lindos, cozinhas felizes, almofadas decentes, alcovas onde se conversa baixo, comodas antigas, ás vezes,  surpreendentes casas de bonecas . Tudo provas que a vida não nos falha. Cenários não são acessórios, antes histórias, confusões e mistérios . Algumas podem ser contadas.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

 
 “ Pelo que, tu também vens do Céu ! De que planeta és?
Antoine de Saint – Exupéry, O Principezinho
 

 Uma vida que se celebra nunca é amputada de sabedoria nem diminuída na imponência. As celebrações das sociedades, domésticas, religiosas e políticas, sempre foram solicitadas. Importa-me mais, que, a celebração seja um desejo individual ao qual não devemos estar imunes, como a uma sombra comprida.
 Prefiro celebrar quando detenho todos os pressupostos do ritual. Acto imediato, a memória condensa o presente e, assim, celebrar a vida nunca tem um limite estabelecido, a partir do qual não devem ir as nossas paixões, mesmo que as fronteiras morais e sociais fiquem mais porosas do que nunca.
Celebro a Vida; a que está, perto do imprevisto ou da verdade universal e que diz respeito a todos, celebro a vida, para que a miséria astuta não tome conta da felicidade, e para, que nenhuma opressão consiga rasurar o gosto de viver. Celebro a vida, para que se mantenha sempre a confiança que nos faz aprender as lições da história. Por fim, Celebro a história segundo consegui reconstruí-la até numa sala privada.
 
    ( foto -Royall Tyrell Museum  )

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

 

                Doutor Mundinho


Antes de falar, o Chico esperto, tem sempre qualquer coisa para dizer. Um massacre disparado na direcção de todos os involuntários interlocutores, com que esta casta arrogante e gélida, falsa e satisfeita se cruza. O, Chico esperto, padece da aversão renhida dos pobres ao silêncio. Parte do, sucesso destas personalidades de fachada, assenta na rapidez, na falácia e no espalhafato. No sufoco da sua sabedoria.

 Nem chegam, a ser a mistura de lirismo e esperteza, porque vem logo a espessura do problema que é, quando, está em pleno activo. Nunca me agradou o ” tema “, nos Chicos espertos. Incapazes, de me tornar, e de me deixar ávida, nunca me sinto, tão pouco ambiciosa com alguém, como, quando estou, na presença destas, estátuas ambulantes do desprezo pelo bom gosto e por um comportamento dignamente  apreciável que vá além da competência tecnocrática. Uns mais do que outros, mas quem não se deparou já, com a  comédia da sua, permanência, em lugares que querendo só seus , não obedecem, não abdicam, não dão licença. Não cedem naquilo que é arrogam ser só seu. Por conquista, claro.
Aparentemente estas pessoas alegam ter humor e boa disposição o que é falso. O que existe é uma desinibição e bondade ineficazes a que o humor não pode sobreviver. Um ressentimento expresso em segredo; “ressentiment" como se refere a Sociologia Francesa que nos faz sempre sentir a violência humana que transportam.
A esperteza do chico esperto, é como tricotar com as agulhas erradas, consegue fazer-se, mas não é durante muito tempo e a roupa fica aquém do que se quer.  


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

 
“ Gratidão, essa história com nomes maiores”
Lisboa. Quinta-feira. Se me perguntarem o que é a gratidão, vou chamar,  Simmel,    que a definiu como a “ memória moral da humanidade”.  Pode ser que um dia, alguém ainda sem nome, faça esta fotografia e que nela aponte todos os lugares, em que, nos apresentámos e que fomos mais felizes. Quando, uma palavra me remete mais ao silêncio, vou buscá-la ao latim, fico com a ideia que a tive mais tempo. Foi assim com a gratidão, diz-se,  “ gratia”  o equivalente a  agradável .
 Era a altura de escrever, o que não tinha dito sobre o mundo dos outros e o meu, lembrei-me  daquela frase, de um discurso de Churchill, que diz que; “ ….nunca   tantos deveram a tão poucos..” e, deixei-me ir, á minha frente, sobravam muitos gestos para serem ainda executados.
 Pensei: A gratidão tem este programa, simples que permite ao tempo ficar quieto por instantes, isolando o fio do acaso, a queda sem rede, o castigo de Deus, a ira dos homens para nos garantir, a nós, sonhadores sonâmbulos, amantes sem amor e militantes trémulos de várias causas, que o mundo é esta bênção, que nunca nos fará sentir abandonados e que somos os autores memoráveis desta existência;
A gratidão não é uma   rua,  é o  Mundo, mesmo aquele em que eu ouvia o teu sono inquieto ao meu lado sem nunca sonhar com medo,  nesses momentos era tomada pela sensação de improviso, de uma  viagem de ferias sem regresso.
 Gratidão, ás lições que foram escritas em guardanapos, aos livros  que me fizeram estar na pele de tantos personagens, não me deixando colar á realidade,  que me conseguiram  revoltar o espírito, até  aprender dentro deles quase tudo. Que, não me deixaram ficar   intacta e me permitiram escrever. Quando falo disto fico em silêncio.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

 
 
                                  Príncipe Genghi

                                “ … O  que  faltou á Elíada foi  o sorriso de Aquiles"
                                  ( in contos Orientais Marguerite Yourcenar )

Perguntei, se esperar que a noite termine se está a tornar difícil? Nada. Aliso as coxas dela. Amo as mulheres.
Tentei ser rápida, mas esta atmosfera de sábia voluptuosidade mantinha-me. Sem ser a teoria da beleza,   ele,  evocava-a , naturalmente,  quando falava , ou fazia rudimentares cálculos sobre o quotidiano.  È um homem que pertence mais á espécie do que ao sexo. Faz história.
Demorei-me mais,  para observar, que, manter vivas, todas as virtudes dos nossos heróis exige que se  deixe  entrar a morte, a amizade traída ou negada,  e a mediocridade de uma vida menos frondosa que os nossos sonhos, e ainda outros verdadeiros males.  Desliga- se, das virtudes. Das nossas e dos outros, daquelas que por erro tentamos encontrar. Grande partida, admitir o que, melhor nos define como sendo  aquilo que não fomos. Não há memória para êxitos que que não foram notórios, a avaliação  vai para o resultado, não para o esforço.

Demorei-me ainda , e depois, mais rápido que o necessário,  lembrei-me de Woody Allen que dizia; “… Que,  ser-se amado é, evidentemente diferente de se ser admirado, pois pode ser-se admirado á distância, mas para amar alguém, verdadeiramente, é preciso estar no mesmo quarto que a outra pessoa agachado atrás das cortinas..”. Acrescentei, que abdicava das cortinas. Risos.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

 

“ Those  who  fly alone”
Conhecia a história. Ignorava q verdade. Às vezes, é preciso ser a ideia platónica de uma pessoa sozinha, deixar os antecedentes suspensos e ser o tema. Um tema que inclua, tudo o que há de gostável e capaz. Mais feroz, que espectacular, elevar-se é uma experiência, de um longo e complexo ritual.  Assente no silêncio, escala em experiência e demora na coragem. Mantem-nos ágeis e laboriosos.  

 Quem voa sozinho, não se herda tardiamente. Tem valentia e desamparo, por vezes,  fortalecidos,  pelos lutos de antigamente. Quer combinar, um futuro próximo, onde possa criar voluntariamente uma paixão. E, desinibido, chega a querer ser amado por todos, para não corresponder ao amor.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

 
 

           Toda

         ( thank you)

          
Vivi uns dias de Verão em Israel, de dia caminhava entre Jaffa e a avenida marginal de Telavive, uns quilómetros na hora do calor, interrompidos para entrar na água quente do mar de Jerusalém.
Esperei, a noite, para espiar as vivências deste povo. Israel, independente, em 1948 é ainda criança, mas o que, se encontra debaixo, da bata desta cidade, é um doseamento astuto de descaramento e compostura, café forte e bem tirado, galerias de objectos, artistas e designers. Uma cidade que nunca dorme.
Nem todos são religiosos, Telavive tem um ambiente secular. O Inglês é, muitas das vezes, incipiente e o hebraico intricado e fechado com um som robusto a rematar as frases. Gestos e berros, fecham os negócios e terminam as explicações aos turistas. Não se facilita. Sem cultura de serviço, as russas que fazem de empregadas de mesa não se esforçam em remediar o jeito para o atendimento. A rudeza é da praxe e se a gorjeta for pequena, elas devolvem-na. Toda a gente á assertiva, diz-se o que se pensa. Há jovens em princípio de vida com ideias no futuro e há quem, se detenha simplesmente ao som do transístor.
Jerusalém, apesar de ser uma cidade apertada, ensopada numa neblina de calor, apesar de, ser o tumulo dos reis para os Cristãos Apostólicos Romanos, para os Judeus e para os Muçulmanos, apesar da água benta se transformar em mágoa, apesar da elasticidade ser por vezes esquecida, apesar da mágoa dos vivos guardar ressentimento e alimentar vingança, apesar das almas confusas que buscam agressão, Jerusalém é intimidade.
Israel, devorada por males aos quais não se quis render, sabe valer-se. Israel tem mérito e tem algo mais. Impossível de não amar.
 
 
 


sexta-feira, 28 de agosto de 2015


  
     A Doris Day
    (“  In  Caprice “ , 1967 )
A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais..."
 Oscar Wilde


Chegou meia hora depois de mim, a espera serenou-me ao ponto de considerar que o nosso encontro não estaria condenado ao malogro. Doris, com todos os enredos de glória e êxito dos seus caprichos, dava a entender, que, ninguém lhe podia amarrotar a roupa. Vivia este frenesim, hedonista e inconcebível. Instruía, que, a qualquer momento, lhe poderia chegar uma nova necessidade para satisfazer. Na linha da superfície o capricho deixava –a,  preenchida, como se fosse um som com risos. Via a ausência, como estupida e mítica. Sem peso.

 Doris, adorava caprichos. Sabia que estes, valem a pena pela,  esterilidade que provocam, em  todos os esforços para os demover. Submetem-se, antes a uma vontade régia. Doris, dos preços especiais baseados na suposta assiduidade, das olhadelas dirigidas a tudo  o que deve ter uma aura suave, do que, permanece invisível, do que, deve aguardar pelo sinal afirmativo, do tanto que procura, do vagamente adulterino.

Estes destinos, abstractos em que todos os objectos e vontades são únicos não têm fim. Há, quem tome isto por uma carreira de mérito, e gosta de contar aos outros os seus instantes “on the top”. Foi o nosso encontro. Doris cintilante.

terça-feira, 25 de agosto de 2015



Blythe Doll, tudo isto é Kitsch


 Há coisas pirosas, que são gostáveis, podem revelar, falta de qualidade mas não provocam imediata rejeição. Há um piroso, que  conserva um mensurável gosto. Distancia-se, do informal depreciativo do saloio e do parolo. O que fazer então com este piroso com privilégios?

Deixá-lo viver, com certeza, até porque todos nós já fomos, em momentos específicos, um publico,  mais “ preguiçoso”, distanciado das exigentes missivas implícitas ou não, para onde a arte e a estética  nos remetem. Às vezes, o que se deseja é o que já vem consumido. O Kitsch,  como dizia o Umberto Eco, é uma comunicação para as massas repleta de alegorias, de sobreabundância e da exaltação do pormenor.

A “elefantíase”  consumista vive de um  gosto dilatado pela aquisição de produtos,  em cada individuo, há  um  desejo manifesto e crescente  pelo Grand Magasin.  O,   kitch,  ou o piroso fazem-me,   entrar em conversas cheias de pausas e até de esquivas, é verdade, mas falando em tudo prendem-me pela criatividade . De repente, é a solução.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

 

Meredith  Levov


 Poucas vezes, me preocupei com o futuro, preocupei-me mais em estar sempre alegre. Poucos gritos e menos precipitações da janela. Acredito, que não se devem repetir os sons que não têm finalidade. Acho a beleza obscenamente suportável e a inteligência a maior das diversões.

 Tenho várias idades. Acho-me sempre longe do fim, como no dia em que aprendi a largar os pudores da juventude, e como qualquer coração que se aperta tenho o raciocínio e o que sinto.  Gosto de pensar grande. Adoro o mundo.

 Preparo-me, para a dor física, para o que possa afectar a vitalidade, principalmente    quando não é  passageira.  Mas, sei esquecer as primeiras dores, e gosto de me rodear de quem fez esta aprendizagem de egoísmo. Estive lá. Antes de escrever, aprendi que o corpo é o que está mais perto da alma. E que,  isto não se encomenda.

 Abdico de falsas afeições, não passam de taças repletas de amargura, não padeço de nenhum mal   estar mortífero. E , aborrece-se a visão de límpidas e simples vidas respeitáveis, com espaço e calma, ordem e optimismo. Sou uma mulher com uma necessidade humana de   desafiar, de demolir , de opor e separar.  Sem querer tudo, quero as coisas que se sucedem. Posso até, não ser inocente mas conservo  a atitude pueril de projectar o paraíso.
 Não quero, a compreensão, porque essa nada tem a vêr com vida. Não compreender é que é a  vida. Não me dês a experiência da costa quando posso ter o mar, os deleites da cobardia quando posso ser maior que a própria vida, a aldeia se posso ter o mundo, e, o sorriso, se posso ser a gargalhada. Falo disto, muitas vezes, com o louco guerreiro que há em mim. Não sou a melhor.

 


quinta-feira, 20 de agosto de 2015

 

                          “Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,
                           na terra onde nasceste e eu nasci? “
                  (Alexandre O'Neill, in 'De Ombro na Ombreira')

Começo. Transbordante de melancolia, há dias, que ainda preciso mais de Lisboa, penso, que a vida, que tenho aqui, não é só minha, conto muitos passageiros que costumam viajar comigo. Elegante e sublime, Lisboa , provoca-me impulsos de latitude infinita. A ideia que não sou romântica, perde-se.

Lisboa, sem barreiras, hedonista e secular, biblíca e crente, como, todos os lugares sem medo, ainda consegue ter mais daquilo que eu gosto; a ironia, a atenção, o humor e a vaidade.  Lisboa é como se fosse um professor, que tem sempre qualquer coisa que admiramos.

 Lisboa dos cafés, das groselhas na esplanada. Dos, que me chamam e não evito. Do casarão de paredes severas, deixado ás outras infâncias que se seguiram. Dos testemunhos das mulheres ás Janelas, banhadas de luz. Das celebridades espontâneas e da acumulação de trivialidades deliciosas. Dos que me fizeram a memória. Do que foi omisso. Da pobreza espessa. Dos instantes de solidão. Das Felicidades. Do que recordo, e uma recordação não basta ser exacta, é preciso ser feliz. Colecciono Lisboa


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

 

“South of the Border”

 Fora da fronteira, está a sobre -realidade, há quem veja isto na trajectória de um  Sputnik a orbitar, a quem prefira um  barco de recreio a navegar. O que, uma trajectória tem de ter é um sentido, de preferência, preso ao poder da imaginação e ser capaz de transportar nesse trajecto, a expressão dos rostos que não vira antes, e que não nos pertencem.
Quem gosta de, uma “ cool ride”, gosta disto e gosta de o fazer com  de intervenientes cujas vidas são absolutamente só suas.  Enigmático, o surrealismo do quotidiano, tem  uma  aceleração, ás vezes vazia, ás vezes   penetrante. Fala de coisas novas e deixa outras por dizer. “…South of the border, down Mexico away..   ( Frank Sinatra, lyrics)

terça-feira, 11 de agosto de 2015

 
                     Mon Oncle, 1958
                    Deux  Temps
Imaginem, que podíamos trocar o tempo das coisas que acontecem. O modo como se deram e as pessoas que as protagonizaram. Dá,  uma situação embaraçosa para quem está e para quem chega, só corre bem aparentemente. Disse, Winston Churchill  que ;  “ o jantar teria sido esplêndido se o vinho não estivesse tão gelado como a sopa, o bife tão mal – passado como o serviço, o brandy tão velho como o peixe, e a criada tão disponível como a duquesa”.
 Há coisas que não se conseguiriam saber nem se conseguiriam fazer sem presenças como esta, fechadas naquele sorriso de quem domina o destino. Pessoas de qualquer tempo.  Que me ensinaram a escrever “ para sempre” . Ainda sei pouco.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015



              " I want that dance, I want to win and I want it now"

                  ( Vincent Veja e Mia Wallace, Pulp Fiction 1994)

No momento em que escrevo, adoro esta frase. Adoro, a mulher que está a minha frente; Uma Thurman e o facto deste filme, ter conseguido alimentar sempre a atracção, sem nunca padecer do  síndroma da abstinência. Quentin Tarantino, faz isto em 1994, e serve, que nem uma luva aos dias empolgantes da era da globalização. As pessoas queriam-se unidas e intrincadas, agora que a Guerra Fria tinha acabado.
Nada de sentimentalismo, nesta cultura Grunge dos anos 90, antes superficialidade, consumismo, humor e violência, do que egos descrentes dados a excessos de afectação e pessimistas. Faz-me lembrar a expressão; “ it´s only love, don´t be sentimental”,  li em qualquer lado, e achei um paraíso para os danados que querem manter a chama do desafio. Cá está. Por mim, faço votos, que este tipo de ingredientes linguísticos e de atitude nunca sejam banidos das convenções da nossa linguagem.
Estes génios, da modernidade, escolhem as acções e mandam nas consequências No cinema e não só. È a paixão dos fortes. Nem toda a gente gosta.

 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

 
                                                                                                              (vogue 1987)

    " New Wave"

São os anos oitenta, em que a beleza foi muito construída e os caprichos do corpo assinalados por uma profusão de enfeites. Recordo. Mas, este ímpeto magnífico, lembra-me, mais um Verão que está longe de terminar,  pleno de  elegância á maneira antiga, e  uma  linguagem que não se pode evitar. Por querer que me assista. Pela vontade de estar sempre a brincar lá fora, pela liberdade. Pelo movimento. Precisei de rever o titulo;  isto, só pode ser a “ cidade do Oeste” , um monte de areia  com a luz derramada ao longo da tarde. Digo.

 


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

      
                                                                                                              (1966)

               “ Abbey Road “


Nunzia, nunca foi uma debutante. Quando lhe perguntaram quem lhe havia ensinado a ler respondeu; eu. Conheceu, o amor e a criatividade, o lado negro dos laços familiares, embora não parecesse estar destinada a tal envolvimento. Nunzia, tinha desejo pelo tempo, que nos revela os segredos, os tumultos, e as repressões.

  Nunzia, procurava a conquista. Convicta do êxito das suas visitas, não actuava como um país cansado que há muito deixou de sonhar com tribos e classes. Sabia que, há sempre culpas em todas as vidas. A culpa da aridez dos outros. Da miséria. Do sofrimento. Da pobreza. Da Plebe. Do desamor. Dos sistemas políticos. Dos derrubados. Dos que derrubam. Dos maus romances. Das fissuras da linguagem. Acima de tudo, estava a curiosidade, por existir fora do seu personagem, tinha o desígnio de superar as suas limitações

  Desafiou-se a ler uns livros de História, a observar e a pensar, a manter em sí todas as tropelias. Mesmo, enquanto cozia o jantar, nunca gostou de transbordar de comida, já tinha desprezo pela alarvidade, pelos gostos que não se discutem e por aqueles que, incapazes, de se transcenderem, acham que a ausência de modéstia em doses recomendáveis, se resume á mania das grandezas. Falso. O que importa, é ser capaz de herdar convicções para que nada possa ruir, e mais do que o preço, conhecer o valor de tudo. Deixar, para traz, a amabilidade do mundo normal que não traz privilégios.
Nunzia, não quis aquela vidinha transmitida em diferido que evita o acaso e a ira dos homens. Admiro-a. 

 


terça-feira, 4 de agosto de 2015

 

        “ Ema Bovary,  c'est moi", d'après moi “

           ( Gustav Flaubert)


Pertencer. Muitas opções e decisões, para o regresso ao ponto de partida. Pertencer, precisa  de uma  Identidade, de uma história. Precisa de mim. Precisa de, por mim. Tem-se, uma história, feita de objectos, cuja utilidade, é produzir um clima. Um clima, que se quer habitar. Mais, no qual se quer estar implicado. A forma que lhe damos é uma disposição mental, por conseguinte, tudo o que se inventar torna-se verdadeiro. Nas sociedades, pós-modernas,  a identidade,  é uma celebração móvel, menos fixa ou permanente.

Mesmo enegrecida, e desfigurada, desaparecida ou esquecida, há na identidade um clima que se constrói e no qual se é construído. Uma celebração em que se modifica para ser modificado. Os objectos, desses momentos, são corpos que revertem em beneficio pessoal, e,  rejeitam-se  como inúteis,  os que não, nos satisfaçam, de imediato, o desejo. De quê?

De representar, um individual capaz de nos reanimar sempre  do que se sente e do que se imagina, desde os encontros mais longínquos aos encontros mais recentes. E com isto, fazer uma história do quotidiano em que a expressão possa ter mais forma que o conteúdo. Uma visão romântica do mundo onde a beleza seja sempre cobiçada.No contraste com as outras vidas.

 


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

 

                                                                                                           ( Henri Cartier Bresson)

         “ O que é a escola secundária? "

         “ Uma escola importante que vem depois da escola média (*)

 
 Muitos anos depois, desta pergunta, ainda erámos amigas. Acontece, que, até aquele momento, só tínhamos trocado ideias sobre os personagens que gostávamos e sobre as frases que aprendêramos de côr. Nessa altura, uma mão segurava a roca, e a outra, o namorado que parecia crescido. Nas duas a alegria das coisas novas. Tudo olhares e poses. Crescemos num mundo onde acreditávamos estar a tirar o melhor.

Nos anos, que se seguiram, encontramos outras coisas urgentes, e respiramos outro ar. Por  isso, muitas vezes  evocamos a  alegria de crianças, a, memória dos cheiros da casa. Rimos das frivolidades, das alegrias fingidas de alguns adultos, das suas dores falsas, do gesto de acenderem uns aos outros os cigarros com as mãos em concha. Do pátio a descoberto cheio de plantas onde se podia comer no Verão. Tudo lições de amor, que  fizeram desvalorizar os pequenos delitos e as cobardias das pessoas que conhecemos, que adoramos e que trazemos até hoje no sangue.
 E, assim, a nossa vida, é tão grande como a fazemos.

  * A Amiga Genial , Elena Ferrante


quinta-feira, 23 de julho de 2015

 

    Love Shoes

 “ Era o par que ela executara …fazendo e desfazendo durante meses, arruinando as mãos..”
   (  “A Amiga Genial “ , Elena Ferrante)
 Daquele que era, o melhor posto de observação; a nossa inocência viam-se, todos os pais e adultos, como criaturas que levavam uma espécie de vida fria, uma existência, que, em nada devia ao calor dos sentimentos nem, ao   ímpeto dos nossos  pensamentos. O que se passava, é que tínhamos muitas horas pela frente, mesmo contando com aquelas que se perdiam. Crescíamos. E, essa, beleza robusta    impedia-nos de estar sempre na realidade
 Continuamos, a desafiar os mais novos, para certas brincadeiras, que os deixassem assustados, só para, ouvir alguém dizer que estava mal, mas o que se pretendia desses dias, era tirar, uma vida mais preenchida. Uma vida em que não se conseguisse prescindir do poder totalmente absoluto daqueles que se movem na nossa direcção. E ao mesmo tempo manter uma inocência simulada de quem se capacita que não está a ser olhado.
 Espera-se, que as bonecas esquecidas nesses encontros de crianças, sirvam um passado imprevisível e veloz, capaz de sugerir pureza e harmonia numa fantasia desconcertante.” Daisy flower”. Sempre.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

 
 

 The Mother Road  and the easy rider

 Um lugar, onde exista inquietação e incerteza desespero e desejo,  destruição e capacidade redendora  nunca terá um fim.  Route 66, e a ideia   do sonho Americano, tão vivo quanto uma respiração curta e agitada, com a capacidade de acrescentar um  sopro de epopeia  ás exaustivas jornadas.
 De Chicago a Los Angels,  são milhas de generosidades deixadas por todas as almas que já a fizeram,   são cenários de pequenos teatros improvisados, de liberdades dominadas pela tentação, pelo triunfo, pela luxuria , pela droga , pelo dinheiro, ou simplesmente por pouco.
 Os, ainda e sempre , vultos “ Beat”, (que o Jack Kerouac  tão bem imortalizou em “ On the Road” ) e, os que os precederam ao fazarem,  esta estrada por altura da  Grande Depressão de 1929, só me fazem pensar em largar toda a brandura e ser faminta e feroz por instantes.  Como escreveu, John Steinbeck nas “ Vinhas da Ira “ A única coisa que nos deve importar é dar um passo á frente por pequeno que ele seja…nada é inútil mesmo o que  parece”. È tão bom descer a estrada em direcção a um sítio novo.
Uma paragem importante seria com certeza,  o Emma Jeans Cafe, a casa do Brian Burger, onde foi filmado Kill Bill. Route 66, o “ double-digit number easy to remenber as well as pleasent to say”
 

terça-feira, 14 de julho de 2015

 

         Madonna  and Sean Pean, 1985

          On the point of the history

 Já escrevi, que não há busca do eterno, pois a vivência de desmanchar é recorrente. E que a glória de quem gostamos não tem nada a ver com os papeís, que lhe foram destinados, mesmo mal utilizados, mal representados, os que nos impressionam entram na nossa vida.
Tudo começou, no dia em que, decidimos subir umas escadas escuras, lanço após lanço que iam até ao pátio. Lembro-me da luz violácea e dos odores do  entardecer. Achei, brilhante, este prodigioso instante, que  trazia a promessa de um território onde se poderiam vir a deparar as nossas vidas. E foi. 
Para todos os efeitos, já eramos adultos á espera do amanhã , a movermo-nos num presente para trás, no qual há o ontem e o anteontem ou no máximo a lembrança do quotidiano, e de um ou outro cómico fracasso. Soubemos, habitar territórios, onde não existem, as categorias de permanência,  só fragmentos que se unem momentaneamente.
 Ele, bonito e delicado exalava um cheiro a bravio. E eu interrogava-me se conseguiria reencontrar sempre aquilo que me fizera rir?
Uma história é sobre isto; sobre a antologia de prodigiosos instantes, com oscilações abruptas, alguns momentos de calma e paz, optimismo e afecto. Súbitas explosões de furor .Uma história, é para quem não está, há pouco tempo, no mundo. Há muitos momentos que nos compõem, podemos até oscilar entre a energia vital e pensamentos mórbidos, desejar com a mesma intensidade solidão e amor, tirar sangue aos outros sem que o nosso nunca verta, tudo isto vale, se fizer história.
 Que importa, se o fim é verbalizado com sílabas alongadas por um desespero raivoso, se um dia tu foste um lugar mais bonito que a minha própria casa. Para continuar, é preciso acreditar que tenha sido assim. E sem final feliz, a “ única obrigação com a história é reescrevê-la …” ( Gilbert em “ O crítico como artista” )
 
 


terça-feira, 16 de junho de 2015


 
What are days for?
Days are where we live ( Larkin)
 
A  aptidão para continuar a viver a vida de todos os dias depois de certas coisas acontecerem; o que é verdade, e o que é, inevitavelmente ficcionado pelos limites da memória.

 Vidas silenciosas ou apáticas, ás vezes mastigadas, sem grande significado nas quais ponderamos se devemos entrar. Que também podiam ser viagens insólitas com estadas em hoteís bafientos ou vários reencontros de entusiasmo e raiva , sarcasmo e fúria, onde é  possível que alguém ganhe ou percam todos.  Anos de silêncio e de bibliotecas se ainda assim  não existisse, nos nossos olhares a curiosidade, para quem imagina uma boa história.

 E, se houver tempo- porque tem de existir tempo, para  falar dos regressos , dos fantasmas que se avistam á luz do dia, das coisas antigas, dos amantes e dos loucos em fuga, dos enganados e dos espertalhões, do que divirte e do que intriga, do que comove e da estranha gratidão; então nunca vai haver um fim.

O  quotidiano, que nunca nos deixa morrer de inutilidade,  faz- nos recuperar a própria vida que tinha ficado para trás. Histórias inventadas mas nem por isso menos verdadeiras.





segunda-feira, 15 de junho de 2015

 
 

 
 

 While We´re young

( Noah Baumbach )

Logica invertida das tendências, dois momentos, que sonham cada um com o peso de ambos. Juventude e idade adulta. Os “ Kidults”; transformam a juventude num valor que pode ser conquistado em qualquer altura da vida pela adopção dos consumos e estilos de vida apropriados. Uma,  “ nova juventude “ dinâmica e criativa, capaz de se reinventar num mundo estável e risonho onde o tempo não conta. Esta estetização da vida pós –moderna, é, como,  se fosse um constante jogo de manipulação consentido, uma notável  sedução, cujo invólucro, não faz perder o sentido.

Dissolução do adulto; essa explicação social para uma fantasia tão desejada, em que nada se passa em absoluto, quer nos consumos, quer nos saberes. Valorização do pluralismo que quebra a autoridade. Fica de fora, quem não tem gosto pela mudança ou substituição. A vanguarda da cultura jovem, não está, para os funcionários da literatura ou outras matérias  do tipo que fazem professores rancorosos e académicos sonolentos. Sendo pessoas abertas, jovens e adultos transformam-se em categorias de consumos em áreas, capazes de gerar várias permutas entre ambos. A idade é um mecanismo poderoso independente da maturidade física e mental que movimenta  uma desafiante configuração social na qual a diferença de idades e a ideia de ciclos de vida parecem perder significado.  Jovens e adultos que se alternam, dentro de momentos.

A compreensão, da vida adulta tem muito de olhar na mesma direcção e cada  um ser capaz, de , sem arrivismo pronunciar o seu léxico com ar descontraído.” Love does not consist of gazing at each other, but in looking outward together in the same direction” (Antoine de Saint-Exupéry)