quinta-feira, 19 de junho de 2014

“ E do meio do mundo prostituto só amores guardei ao meu charuto”“ Rubem Fonseca



Diz-se que, Freud, quando foi interrogado sobre o significado de fumar charuto respondeu   que; “ Às vezes um charuto é apenas um charuto” livre de desejos reprimidos. A mim, não me convence por completo. Tudo no charuto me estimula a imaginação no sentido; do poder no  masculino. Muito importante para me relacionar. Mesmo sem estar perto dos homens neste momentos, absorvo esta ideia, do tamanho, da fumaça, projectada do interior para o exterior, e isso embala-me e tal como aos fumadores impede-me de vêr com nitidez o mundo á minha volta. A atmosfera fica turva. Parece, uma meia verdade ou uma não verdade que está ali para nós. Pronta a ser protagonizada. Segundo a psicanálise esta ideia  pode levar á construção do Alter ego. Quem sabe.

Freud fumou charuto sempre, cerca de vinte por dia, por isso sem charutos não teria havido psicanálise e ao contrário das declarações que lhe atribuíram, um charuto vale por tudo, menos por sí próprio. È evocativo de status social e autoridade paterna, um verdadeiro ritual de iniciação. Uma ambição.

O charuto é uma recompensa ou um alívio uma substância de lazer, um apetite físico e espiritual, um atributo hedonista. Não é precário nem efémero, antes individualista, pelo desejo dominante. “Bebo muito. Quase não durmo e fumo um charuto atrás do outro. É por isto que estou duzentos por cento em boas condições físicas e mentais." (Winston Churchil)

Por curiosidade, a palavra charuto deriva de cheroot, um tipo de charuto muito popular na era vitoriana. Muito depois vem a história dos “ Cohiba” que começou com os charutos fumados por um guarda costas de Fidel de Castro, que, ao notar o aroma que exalavam mandou doravante produzi-los no mesmo local. A aparência fálica do charuto é tangível porque testemunha a virilidade. Celebra a vida e pode até ser uma alternativa ao vazio da existência. Diz-se que Pablo Picasso nasceu morto e Don Salvador, seu médico soprou-lhe fumo de charuto na cara e este fez com que ele começasse a chorar.

 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

“Tudo aquilo que gostas é ilegal, imoral ou da nova colecção”


 
“Tudo aquilo que gostas é ilegal, imoral ou da nova colecção”

Preparava-me para escrever sobre isto, o mais possível fora dos costumes. Adorei a frase e precisava de um amador desta ideia para meu cúmplice. Lembrei-me, desta declaração de Churchill e abracei-a para começar; "nenhum grande país foi salvo por homens bons, porque os homens bons não vão até onde é preciso ir". Ou seja, não gostam tanto assim. Não podia estar mais de acordo.
E com isto, arruma-se com o preceito da ilegalidade e imoralidade, do acto jurídico, e outras insípidas narrações que só são funcionais para aqueles que não passam de estátuas ambulantes do desprezo pelas suas vidas. A ideia de Ilegal , imoral ou da nova colecção têm um denominador comum que lhes assiste; serem gostáveis. Porquê? Pelo hipotético, pelo ludíco, pelo irónico, pelo cinismo e pela omissão, ou seja pelo ambíguo em vez do claro. E têm uma exigência; o resgate a essas razões. Sempre. Gostar, para ser capaz de gerir as zonas cinzentas, correr riscos, quer pela intangibilidade quer pela obscenidade ou imperfeição, tudo isto sem ser raso, nem vulnerável á infelicidade.
Ganhamos sempre em gostar e por excesso se for preciso. Gostar enriquece a existência e o imaginário. Vai mais longe. E o mais apetecível é ficar na véspera, de nunca partir desta capacidade de reproduzir convidativas imoralidades, ilegalidades e claro usar e abusar das “novas colecções”; esses passatempos de luxos funcionais, só porque se gosta.Tudo isto, são ideias gostáveis, com assombro para uns ou ultraje para outros. O que se gosta, pode estar ainda por viver e note-se, pode sempre ser mais interessantes do que o anterior. E isso basta para ficar disposto a correr o risco.

 

Ultimo Tango em Paris






  

 Jeanne (Maria Schneider) é uma parisiense jovem bela à procura de um apartamento. Paul (Marlon Brando) é um misterioso americano ainda de luto pela morte recente da mulher. Jeanne e Paul entregam-se a uma tempestuosa relação carnal sem nunca revelarem as próprias identidades. A história, longe de ser considerada de teor superficial, terá grandes repercussões para ambos.

www.festadocinemaitaliano.com/

Argumento: Bernardo Bertolucci
Intérpretes: Marlon Brando, Maria Schneider, Maria Michi, Giovanna Galletti, Gitt Magrini

 

Guerra dos Tronos




 
   “ Guerra dos Tronos “

  E , se ;  “ a guerra é  continuação da política por outros meios “ ( Carl von Clausewitz )
 os próximos episódios vão conter imagens épicas pela luta do trono

 

 

“Enfant terrible “




 
“ invejável coerência,

Há bigodes e bigodes. Há quem os  possa usar e há quem nunca o possa fazer.  .  Numa altura em que os bigodes voltaram á moda , há quem os utilize  até para dar um bigode á industria de cinema mainstream de Hollywood.

 Robert Redford , o Sundance Kid de “ Butch and Sundance “ , êxito cinéfilo assinalável dos anos 70 ao lado de Paul Newman , está a fazê-lo  através do  festival  Sundance  e do  o canal sundance Tv que já conquistou um espaço de liberdade não ocupado. Um elogio á defesa do cinema  alternativo, independente que transmite filmes e documentários de produção autónoma.

Só por causa desta iniciativa e do seu último filme,"All Is Lost", já merecia o oscar de melhor actor.
Mas as boas causas porque não geram negócio, não dão óscares. Mas dão bigodes!

 

Camisa Branca





    


 
 
 
 
 
 
 
 
 
A camisa branca é a peça da indumentária masculina que melhor exprime, o efeito desta musica dos Eagles  ; “ you can check-out anytime you like but you can never leave”. Tem esse poder.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

"a scandal of normality”



 

 
Fiquei a saber que a revista Rolling Stones fundada em 1967 nos Estados Unidos, tem musica , tem política , mas também tem cultura popular. Basicamente, fala  sobre atitudes que a musica envolve e quer chegar a todos. O Papa Francisco tem esta imagem de “ normality”, o que tem vindo a conduzir a Igreja católica , ao  desejo de não se isolar  de uma plena transformação.

 O papa Francisco cuja eleição foi apelidada de “ a scandal of normality”  está a construir pontes entre pessoas distintas, com diferentes “ Backgrounds” e a integrá-los numa nova interpretação da Igreja Católica. E eu, como  outros, que tínhamos na memória ser intrusosos , agora sentimo-nos convidados nesta casa.

 Dando o exemplo, está a ajudar os fieís a cortarem com relações inuteís e improdutivas com a fé Católica, reposicionando os príncipios , alinhando os dogmas  e principalmente demitiu-se do papel  de julgar. Numa palavra resgatou-me.

O primeiro jesuíta a chegar á liderança da  Igreja católica trouxe sorrisos  em publico , naturalidade, “Styling” e a ideia de não ser um ágil  “ speaker”. Promove  uma cultura de identificação, pelo todo   realçando que  ser católico é ser mais que a soma das partes.

 Espero que seja mais uma  edição para “ os imortais da Rolling Stone”.

A “ Amante holandesa







Compreende? Começa assim, a “ Amante Holandesa”, um livro que nos desafia mais a valorizar  as sensações causadas, do que aquelas, que são verbalizadas pelo autor. Rentes de Carvalho usa uma linguagem directa, impressionista, mas deixa espaço para a imaginação. Melhor; dá-nos liberdade .

 Não me lembro do dia em que li este livro, mas sei que, o tempo narrativo passou depressa, através da conversa que o autor estabelece sobre a história de dois conterrâneos com quase sessenta anos. Um deles, professor, que nunca renunciou a uma vida comoda mas sem recursos emocionais, é um homem sem coragem, e outro; Gato, que emigrou para Holanda para ser estivador e aí teve uma amante. A magia, deste ultimo personagem, opõe-se á palidez do outro, avaliando-se o vazio que pode existir na vida daqueles, que nunca fizeram nada de arriscado, tudo isto, ligado pelo efeito de uma amante holandesa, que pretende em ambos dar-lhes a ilusão de que o amor existe. E consegue, pelo impacto desafiante que o relato de um tem no outro.

È uma história do imprevisto, cujo personagem principal é um pastor, sem culpa por não ter estudado e, por não ter, uma casa cheia de livros com o pronuncio da sabedoria de todas as profissões. Gato, só tinha uma coisa invejável; a firmeza, e era com esta que ..” pedia ameaças ao mundo…”. Só realizou um sonho, mas soube dar-nos mais. E dar é uma superioridade recomendável. Gato, deixa-nos a ideia de ser um fim de tarde …” com uma ilusão de criança que vivia uma vida de Homem”. Gato, tinha saudades, porque foi capaz de viver a melhor coisa que lhe aconteceu na vida ; uma mulher. È angustiado, no regresso á aldeia porque esta não o compreende, mas no isolamento consegue tréguas com os seus fantasmas interiores. Quer ser feliz.  E este convite é irrecusável.

 Aniquilou-se, pela ilusão de um amor obsessivo, por uma amante que nunca conseguiu prender contra sí, por muito que lhe tenha estendido os braços. Clarisse ; a amante Holandesa   ensina a  uns, e relembra outros que, tudo tem um preço e tudo tem um fim.  E, Gato, o pastor emigrante ensina, que, por só se ter realizado um sonho não se falhou a vida. È uma história de poder, entre um homem e uma mulher, vivida sem pudor e terminada sem culpas. Um recomendável desafio a presumíveis principiantes. Defende a atitude , do “mata-te que isso passa-te”. E antes de mais, que, tocar, a amante, “ …a resplandecer de beleza …”  pode ter mágoa. Convida-nos a enamorarmo-nos pela ideia da crueldade bem calibrada, e que mesmo quando o  “ sexo foi ontem “,  ser fugaz  não implica desconforto, e isto pode ser vivido.  *“ je ne suis pas heureux, mais je me sens bien”. Ninguem se prepara o suficiente para esquecer isto.

* ( marquês de sade em carte ao seu procurador)

terça-feira, 3 de junho de 2014

“ Good Bye Lenine “



Agora, que o sol já se pôs todas as vezes sobre os telhados de Lisboa, escrevo a carta. Uma carta, é, como se espera, para os outros e para sempre. Para isso, conto as vozes que me levaram até onde me encontro agora, e essas, que não receiem ser esquecidas, pois só dentro de todas as contradições, pode residir a vivência. E toda a vivência tem um tema; encontrar a própria vida.
Apreendi o desamparo, num formato criativo e ardiloso. È recorrente, a minha ideia, de transformar qualquer idílio num drama, buscar amores, que, teimam em ser como se espera; sólidos e truculentos, vivos e incorrespondidos. Traídos por tudo. Erguidos. A esta maquinação dos amadores, pertence um inventário de regressos, a um lugar onde já não mora ninguém, e que, todavia nos remete sempre.
Encontrei, o desamor, essa ausência assistida; ao lembrar os terraços que ficavam um forno; o comboio da linha; as boleias para a praia; o bairro das vivendas para aprender andar de bicicleta; os patins brancos com atacadores; o passeio com os cães grandes; as cartas escritas á mão; a vitalidade pura e alguma animalidade; o cheiro de água de colonia; as festas no cabelo;  as pernas morenas esticadas sobre o teu peito; o meio do nada e algum lugar onde nos encontramos; a fúria que nivela tudo e a melhor parte da índole humana. Faz-me falta. Dizia, Pessoa; que, “...não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram.” Fui capaz de ter todas.
Cada desamor tem o seu desencanto; o seu desamparo próprio, e cada história, guarda o seu bocado. A minha história, a história mundial, ou a história da família, alinha-nos a trajectória e optimiza-nos os recursos, por contrário que pareça. Fica-se mais forte. O desamor resolve-nos. Sintetiza-nos. È verdade.
 O filme “Good bye Lenine”, assinala a trajectória descendente de Jãhn, seu personagem principal, que passa, de herói a motorista de táxi , referindo-se, simbolicamente,  á derrocada da RDA, e, com  humor, evidência a desgraça que a danificação dessa “ estrela vermelha “ pôde ainda provocar em alguns nichos de população; aqui, está o desamor na história mundial. Quando os prémios Nobel de Literatura, Gabriel García Márquez e Mário Vargas Llosa, cortaram relações e estabeleceram um pacto de silêncio sobre as razões que sustentaram essa atitude, estão a ser devolvidos os desamores das histórias “entre pares”, entre famílias, nestes escritores de ”sangue”.

 Fassbinder e Henry Miller, em períplos, por desamores, nem sempre conformes, elogiam a vontade de querer construír uma vida que nos sirva; com menos ou mais “ lágrimas amargas” , e que, seja, ao mesmo tempo, uma experiência cínica e inocente secular e espiritual. Daqui, sempre autobiográfico e idiossincrático está esta história; a redescobrir, em dias e noites de liberdade e alegria sem fim. Deixo esta carta, á porta da tua casa, dois anos depois.


Dez anos depois do primeiro Big Brother, vamos ter outro. Mais do mesmo. Imagens do “self –media” com interpretes  dedicados a serem  em simultâneo utilizadores e produtores de informação. O resultado, é o elogio ás engrenagens do exibicionismo caseiro que conduz á inqualificável perda do conteúdo televisivo. Programa consumista, que no seu limitado senso comum não chega a lugar nenhum a não ser a ele mesmo.
  O Big Brother prima pela proximidade de sentimentos em vez do distanciamento crítico entre os personagens e o telespectadores, garante uma cultura que promove  pessoas e situações com características de identificação simples. È um “ less is less”, que incapaz de despertar pensamento alavanca a incapacidade de perceber e interpretrar.  
 Este marasmo conceptual, de vez em quando, é espicaçado pela exibição no ecrã de  tentativas de representação sexual levadas a cabo por  alarves protagonistas de atitudes de mau gosto, incapazes de agarrar o sexo pela ideia mais fantasiosa da sugestão. Censurável. O Big Brother vive da exploração  da  iletracia  na maior parte das vezes alavancada por estas “pequenas “  encenações  pornográficas, sem escala, feitas de imagens e de uma linguagem de decadente cariz sexual que não  desperta, em rigor, qualquer involvência erotizada, a que os mesmos convidam os espectadores.

 E para rever a tangibilidade dos suportes de erotismo, retratados tantas vezes na televisão e no cinema, ao longo de décadas, não é demais referir o exemplo das históricas cenas que povoaram, essas sim, o imaginário de gerações e foram tantas vezes, injustamente ostracizadas pelo poder instituído contrariamente ao que se assiste neste tipo de programa.  O Bernardo Bertolucci que realizou o ” ultimo tango em paris “; o Quentin Tarantino que realizou  “ Pulp fiction “ o  zalman-king que realizou “ nove semanas e meia “; o Nagisa Oshima com o “ império dos sentidos e ainda  o Stanley Kubrick com “ Lolita “ ou  “laranja mecânica”, fizeram história com os corpos e com o enredo. Produziram momentos de erotismo e pornografia capazes de se elevarem das suas definições mais redutoras; como diria André Breton, “Pornography is the eroticism of others”. Isto é memória e atitude. O Big Brother não deixa uma e não tem a outra.