quarta-feira, 21 de outubro de 2015

  

                              O Decor

                                       ( Hotel Budapeste , Wes Anderson , 2014)

 O Decór, é um incitamento feroz. Este, é um assunto que não relativizo, se pudesse, revivia vezes sem conta áreas estéticas onde já fui feliz, quase como aqueles ratos que carregam e carregam num pedal ligado aos seus centros de prazer e só param quando morrem. Quero dizer, que não tenho a mais pálida tendência abstémica quando estou perante a possibilidade de habitar e assimilar uma atmosfera que me agrada.

 Decor que se queira , é sempre um ponto de referência e convida  a viver o que ficou longe da tragédia da banalidade inocente. Ali, partes individuais do nosso corpo vão para paraísos diferentes.

 Os cenários são vários; alguns excêntricos com corredores intrigantes, outros majestosos com salões lindos, cozinhas felizes, almofadas decentes, alcovas onde se conversa baixo, comodas antigas, ás vezes,  surpreendentes casas de bonecas . Tudo provas que a vida não nos falha. Cenários não são acessórios, antes histórias, confusões e mistérios . Algumas podem ser contadas.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

 
 “ Pelo que, tu também vens do Céu ! De que planeta és?
Antoine de Saint – Exupéry, O Principezinho
 

 Uma vida que se celebra nunca é amputada de sabedoria nem diminuída na imponência. As celebrações das sociedades, domésticas, religiosas e políticas, sempre foram solicitadas. Importa-me mais, que, a celebração seja um desejo individual ao qual não devemos estar imunes, como a uma sombra comprida.
 Prefiro celebrar quando detenho todos os pressupostos do ritual. Acto imediato, a memória condensa o presente e, assim, celebrar a vida nunca tem um limite estabelecido, a partir do qual não devem ir as nossas paixões, mesmo que as fronteiras morais e sociais fiquem mais porosas do que nunca.
Celebro a Vida; a que está, perto do imprevisto ou da verdade universal e que diz respeito a todos, celebro a vida, para que a miséria astuta não tome conta da felicidade, e para, que nenhuma opressão consiga rasurar o gosto de viver. Celebro a vida, para que se mantenha sempre a confiança que nos faz aprender as lições da história. Por fim, Celebro a história segundo consegui reconstruí-la até numa sala privada.
 
    ( foto -Royall Tyrell Museum  )

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

 

                Doutor Mundinho


Antes de falar, o Chico esperto, tem sempre qualquer coisa para dizer. Um massacre disparado na direcção de todos os involuntários interlocutores, com que esta casta arrogante e gélida, falsa e satisfeita se cruza. O, Chico esperto, padece da aversão renhida dos pobres ao silêncio. Parte do, sucesso destas personalidades de fachada, assenta na rapidez, na falácia e no espalhafato. No sufoco da sua sabedoria.

 Nem chegam, a ser a mistura de lirismo e esperteza, porque vem logo a espessura do problema que é, quando, está em pleno activo. Nunca me agradou o ” tema “, nos Chicos espertos. Incapazes, de me tornar, e de me deixar ávida, nunca me sinto, tão pouco ambiciosa com alguém, como, quando estou, na presença destas, estátuas ambulantes do desprezo pelo bom gosto e por um comportamento dignamente  apreciável que vá além da competência tecnocrática. Uns mais do que outros, mas quem não se deparou já, com a  comédia da sua, permanência, em lugares que querendo só seus , não obedecem, não abdicam, não dão licença. Não cedem naquilo que é arrogam ser só seu. Por conquista, claro.
Aparentemente estas pessoas alegam ter humor e boa disposição o que é falso. O que existe é uma desinibição e bondade ineficazes a que o humor não pode sobreviver. Um ressentimento expresso em segredo; “ressentiment" como se refere a Sociologia Francesa que nos faz sempre sentir a violência humana que transportam.
A esperteza do chico esperto, é como tricotar com as agulhas erradas, consegue fazer-se, mas não é durante muito tempo e a roupa fica aquém do que se quer.  


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

 
“ Gratidão, essa história com nomes maiores”
Lisboa. Quinta-feira. Se me perguntarem o que é a gratidão, vou chamar,  Simmel,    que a definiu como a “ memória moral da humanidade”.  Pode ser que um dia, alguém ainda sem nome, faça esta fotografia e que nela aponte todos os lugares, em que, nos apresentámos e que fomos mais felizes. Quando, uma palavra me remete mais ao silêncio, vou buscá-la ao latim, fico com a ideia que a tive mais tempo. Foi assim com a gratidão, diz-se,  “ gratia”  o equivalente a  agradável .
 Era a altura de escrever, o que não tinha dito sobre o mundo dos outros e o meu, lembrei-me  daquela frase, de um discurso de Churchill, que diz que; “ ….nunca   tantos deveram a tão poucos..” e, deixei-me ir, á minha frente, sobravam muitos gestos para serem ainda executados.
 Pensei: A gratidão tem este programa, simples que permite ao tempo ficar quieto por instantes, isolando o fio do acaso, a queda sem rede, o castigo de Deus, a ira dos homens para nos garantir, a nós, sonhadores sonâmbulos, amantes sem amor e militantes trémulos de várias causas, que o mundo é esta bênção, que nunca nos fará sentir abandonados e que somos os autores memoráveis desta existência;
A gratidão não é uma   rua,  é o  Mundo, mesmo aquele em que eu ouvia o teu sono inquieto ao meu lado sem nunca sonhar com medo,  nesses momentos era tomada pela sensação de improviso, de uma  viagem de ferias sem regresso.
 Gratidão, ás lições que foram escritas em guardanapos, aos livros  que me fizeram estar na pele de tantos personagens, não me deixando colar á realidade,  que me conseguiram  revoltar o espírito, até  aprender dentro deles quase tudo. Que, não me deixaram ficar   intacta e me permitiram escrever. Quando falo disto fico em silêncio.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

 
 
                                  Príncipe Genghi

                                “ … O  que  faltou á Elíada foi  o sorriso de Aquiles"
                                  ( in contos Orientais Marguerite Yourcenar )

Perguntei, se esperar que a noite termine se está a tornar difícil? Nada. Aliso as coxas dela. Amo as mulheres.
Tentei ser rápida, mas esta atmosfera de sábia voluptuosidade mantinha-me. Sem ser a teoria da beleza,   ele,  evocava-a , naturalmente,  quando falava , ou fazia rudimentares cálculos sobre o quotidiano.  È um homem que pertence mais á espécie do que ao sexo. Faz história.
Demorei-me mais,  para observar, que, manter vivas, todas as virtudes dos nossos heróis exige que se  deixe  entrar a morte, a amizade traída ou negada,  e a mediocridade de uma vida menos frondosa que os nossos sonhos, e ainda outros verdadeiros males.  Desliga- se, das virtudes. Das nossas e dos outros, daquelas que por erro tentamos encontrar. Grande partida, admitir o que, melhor nos define como sendo  aquilo que não fomos. Não há memória para êxitos que que não foram notórios, a avaliação  vai para o resultado, não para o esforço.

Demorei-me ainda , e depois, mais rápido que o necessário,  lembrei-me de Woody Allen que dizia; “… Que,  ser-se amado é, evidentemente diferente de se ser admirado, pois pode ser-se admirado á distância, mas para amar alguém, verdadeiramente, é preciso estar no mesmo quarto que a outra pessoa agachado atrás das cortinas..”. Acrescentei, que abdicava das cortinas. Risos.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

 

“ Those  who  fly alone”
Conhecia a história. Ignorava q verdade. Às vezes, é preciso ser a ideia platónica de uma pessoa sozinha, deixar os antecedentes suspensos e ser o tema. Um tema que inclua, tudo o que há de gostável e capaz. Mais feroz, que espectacular, elevar-se é uma experiência, de um longo e complexo ritual.  Assente no silêncio, escala em experiência e demora na coragem. Mantem-nos ágeis e laboriosos.  

 Quem voa sozinho, não se herda tardiamente. Tem valentia e desamparo, por vezes,  fortalecidos,  pelos lutos de antigamente. Quer combinar, um futuro próximo, onde possa criar voluntariamente uma paixão. E, desinibido, chega a querer ser amado por todos, para não corresponder ao amor.