sexta-feira, 28 de agosto de 2015


  
     A Doris Day
    (“  In  Caprice “ , 1967 )
A única diferença entre um capricho e uma paixão eterna é que o capricho dura um pouco mais..."
 Oscar Wilde


Chegou meia hora depois de mim, a espera serenou-me ao ponto de considerar que o nosso encontro não estaria condenado ao malogro. Doris, com todos os enredos de glória e êxito dos seus caprichos, dava a entender, que, ninguém lhe podia amarrotar a roupa. Vivia este frenesim, hedonista e inconcebível. Instruía, que, a qualquer momento, lhe poderia chegar uma nova necessidade para satisfazer. Na linha da superfície o capricho deixava –a,  preenchida, como se fosse um som com risos. Via a ausência, como estupida e mítica. Sem peso.

 Doris, adorava caprichos. Sabia que estes, valem a pena pela,  esterilidade que provocam, em  todos os esforços para os demover. Submetem-se, antes a uma vontade régia. Doris, dos preços especiais baseados na suposta assiduidade, das olhadelas dirigidas a tudo  o que deve ter uma aura suave, do que, permanece invisível, do que, deve aguardar pelo sinal afirmativo, do tanto que procura, do vagamente adulterino.

Estes destinos, abstractos em que todos os objectos e vontades são únicos não têm fim. Há, quem tome isto por uma carreira de mérito, e gosta de contar aos outros os seus instantes “on the top”. Foi o nosso encontro. Doris cintilante.

terça-feira, 25 de agosto de 2015



Blythe Doll, tudo isto é Kitsch


 Há coisas pirosas, que são gostáveis, podem revelar, falta de qualidade mas não provocam imediata rejeição. Há um piroso, que  conserva um mensurável gosto. Distancia-se, do informal depreciativo do saloio e do parolo. O que fazer então com este piroso com privilégios?

Deixá-lo viver, com certeza, até porque todos nós já fomos, em momentos específicos, um publico,  mais “ preguiçoso”, distanciado das exigentes missivas implícitas ou não, para onde a arte e a estética  nos remetem. Às vezes, o que se deseja é o que já vem consumido. O Kitsch,  como dizia o Umberto Eco, é uma comunicação para as massas repleta de alegorias, de sobreabundância e da exaltação do pormenor.

A “elefantíase”  consumista vive de um  gosto dilatado pela aquisição de produtos,  em cada individuo, há  um  desejo manifesto e crescente  pelo Grand Magasin.  O,   kitch,  ou o piroso fazem-me,   entrar em conversas cheias de pausas e até de esquivas, é verdade, mas falando em tudo prendem-me pela criatividade . De repente, é a solução.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

 

Meredith  Levov


 Poucas vezes, me preocupei com o futuro, preocupei-me mais em estar sempre alegre. Poucos gritos e menos precipitações da janela. Acredito, que não se devem repetir os sons que não têm finalidade. Acho a beleza obscenamente suportável e a inteligência a maior das diversões.

 Tenho várias idades. Acho-me sempre longe do fim, como no dia em que aprendi a largar os pudores da juventude, e como qualquer coração que se aperta tenho o raciocínio e o que sinto.  Gosto de pensar grande. Adoro o mundo.

 Preparo-me, para a dor física, para o que possa afectar a vitalidade, principalmente    quando não é  passageira.  Mas, sei esquecer as primeiras dores, e gosto de me rodear de quem fez esta aprendizagem de egoísmo. Estive lá. Antes de escrever, aprendi que o corpo é o que está mais perto da alma. E que,  isto não se encomenda.

 Abdico de falsas afeições, não passam de taças repletas de amargura, não padeço de nenhum mal   estar mortífero. E , aborrece-se a visão de límpidas e simples vidas respeitáveis, com espaço e calma, ordem e optimismo. Sou uma mulher com uma necessidade humana de   desafiar, de demolir , de opor e separar.  Sem querer tudo, quero as coisas que se sucedem. Posso até, não ser inocente mas conservo  a atitude pueril de projectar o paraíso.
 Não quero, a compreensão, porque essa nada tem a vêr com vida. Não compreender é que é a  vida. Não me dês a experiência da costa quando posso ter o mar, os deleites da cobardia quando posso ser maior que a própria vida, a aldeia se posso ter o mundo, e, o sorriso, se posso ser a gargalhada. Falo disto, muitas vezes, com o louco guerreiro que há em mim. Não sou a melhor.

 


quinta-feira, 20 de agosto de 2015

 

                          “Que fazemos, Lisboa, os dois, aqui,
                           na terra onde nasceste e eu nasci? “
                  (Alexandre O'Neill, in 'De Ombro na Ombreira')

Começo. Transbordante de melancolia, há dias, que ainda preciso mais de Lisboa, penso, que a vida, que tenho aqui, não é só minha, conto muitos passageiros que costumam viajar comigo. Elegante e sublime, Lisboa , provoca-me impulsos de latitude infinita. A ideia que não sou romântica, perde-se.

Lisboa, sem barreiras, hedonista e secular, biblíca e crente, como, todos os lugares sem medo, ainda consegue ter mais daquilo que eu gosto; a ironia, a atenção, o humor e a vaidade.  Lisboa é como se fosse um professor, que tem sempre qualquer coisa que admiramos.

 Lisboa dos cafés, das groselhas na esplanada. Dos, que me chamam e não evito. Do casarão de paredes severas, deixado ás outras infâncias que se seguiram. Dos testemunhos das mulheres ás Janelas, banhadas de luz. Das celebridades espontâneas e da acumulação de trivialidades deliciosas. Dos que me fizeram a memória. Do que foi omisso. Da pobreza espessa. Dos instantes de solidão. Das Felicidades. Do que recordo, e uma recordação não basta ser exacta, é preciso ser feliz. Colecciono Lisboa


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

 

“South of the Border”

 Fora da fronteira, está a sobre -realidade, há quem veja isto na trajectória de um  Sputnik a orbitar, a quem prefira um  barco de recreio a navegar. O que, uma trajectória tem de ter é um sentido, de preferência, preso ao poder da imaginação e ser capaz de transportar nesse trajecto, a expressão dos rostos que não vira antes, e que não nos pertencem.
Quem gosta de, uma “ cool ride”, gosta disto e gosta de o fazer com  de intervenientes cujas vidas são absolutamente só suas.  Enigmático, o surrealismo do quotidiano, tem  uma  aceleração, ás vezes vazia, ás vezes   penetrante. Fala de coisas novas e deixa outras por dizer. “…South of the border, down Mexico away..   ( Frank Sinatra, lyrics)

terça-feira, 11 de agosto de 2015

 
                     Mon Oncle, 1958
                    Deux  Temps
Imaginem, que podíamos trocar o tempo das coisas que acontecem. O modo como se deram e as pessoas que as protagonizaram. Dá,  uma situação embaraçosa para quem está e para quem chega, só corre bem aparentemente. Disse, Winston Churchill  que ;  “ o jantar teria sido esplêndido se o vinho não estivesse tão gelado como a sopa, o bife tão mal – passado como o serviço, o brandy tão velho como o peixe, e a criada tão disponível como a duquesa”.
 Há coisas que não se conseguiriam saber nem se conseguiriam fazer sem presenças como esta, fechadas naquele sorriso de quem domina o destino. Pessoas de qualquer tempo.  Que me ensinaram a escrever “ para sempre” . Ainda sei pouco.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015



              " I want that dance, I want to win and I want it now"

                  ( Vincent Veja e Mia Wallace, Pulp Fiction 1994)

No momento em que escrevo, adoro esta frase. Adoro, a mulher que está a minha frente; Uma Thurman e o facto deste filme, ter conseguido alimentar sempre a atracção, sem nunca padecer do  síndroma da abstinência. Quentin Tarantino, faz isto em 1994, e serve, que nem uma luva aos dias empolgantes da era da globalização. As pessoas queriam-se unidas e intrincadas, agora que a Guerra Fria tinha acabado.
Nada de sentimentalismo, nesta cultura Grunge dos anos 90, antes superficialidade, consumismo, humor e violência, do que egos descrentes dados a excessos de afectação e pessimistas. Faz-me lembrar a expressão; “ it´s only love, don´t be sentimental”,  li em qualquer lado, e achei um paraíso para os danados que querem manter a chama do desafio. Cá está. Por mim, faço votos, que este tipo de ingredientes linguísticos e de atitude nunca sejam banidos das convenções da nossa linguagem.
Estes génios, da modernidade, escolhem as acções e mandam nas consequências No cinema e não só. È a paixão dos fortes. Nem toda a gente gosta.

 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

 
                                                                                                              (vogue 1987)

    " New Wave"

São os anos oitenta, em que a beleza foi muito construída e os caprichos do corpo assinalados por uma profusão de enfeites. Recordo. Mas, este ímpeto magnífico, lembra-me, mais um Verão que está longe de terminar,  pleno de  elegância á maneira antiga, e  uma  linguagem que não se pode evitar. Por querer que me assista. Pela vontade de estar sempre a brincar lá fora, pela liberdade. Pelo movimento. Precisei de rever o titulo;  isto, só pode ser a “ cidade do Oeste” , um monte de areia  com a luz derramada ao longo da tarde. Digo.

 


quarta-feira, 5 de agosto de 2015

      
                                                                                                              (1966)

               “ Abbey Road “


Nunzia, nunca foi uma debutante. Quando lhe perguntaram quem lhe havia ensinado a ler respondeu; eu. Conheceu, o amor e a criatividade, o lado negro dos laços familiares, embora não parecesse estar destinada a tal envolvimento. Nunzia, tinha desejo pelo tempo, que nos revela os segredos, os tumultos, e as repressões.

  Nunzia, procurava a conquista. Convicta do êxito das suas visitas, não actuava como um país cansado que há muito deixou de sonhar com tribos e classes. Sabia que, há sempre culpas em todas as vidas. A culpa da aridez dos outros. Da miséria. Do sofrimento. Da pobreza. Da Plebe. Do desamor. Dos sistemas políticos. Dos derrubados. Dos que derrubam. Dos maus romances. Das fissuras da linguagem. Acima de tudo, estava a curiosidade, por existir fora do seu personagem, tinha o desígnio de superar as suas limitações

  Desafiou-se a ler uns livros de História, a observar e a pensar, a manter em sí todas as tropelias. Mesmo, enquanto cozia o jantar, nunca gostou de transbordar de comida, já tinha desprezo pela alarvidade, pelos gostos que não se discutem e por aqueles que, incapazes, de se transcenderem, acham que a ausência de modéstia em doses recomendáveis, se resume á mania das grandezas. Falso. O que importa, é ser capaz de herdar convicções para que nada possa ruir, e mais do que o preço, conhecer o valor de tudo. Deixar, para traz, a amabilidade do mundo normal que não traz privilégios.
Nunzia, não quis aquela vidinha transmitida em diferido que evita o acaso e a ira dos homens. Admiro-a. 

 


terça-feira, 4 de agosto de 2015

 

        “ Ema Bovary,  c'est moi", d'après moi “

           ( Gustav Flaubert)


Pertencer. Muitas opções e decisões, para o regresso ao ponto de partida. Pertencer, precisa  de uma  Identidade, de uma história. Precisa de mim. Precisa de, por mim. Tem-se, uma história, feita de objectos, cuja utilidade, é produzir um clima. Um clima, que se quer habitar. Mais, no qual se quer estar implicado. A forma que lhe damos é uma disposição mental, por conseguinte, tudo o que se inventar torna-se verdadeiro. Nas sociedades, pós-modernas,  a identidade,  é uma celebração móvel, menos fixa ou permanente.

Mesmo enegrecida, e desfigurada, desaparecida ou esquecida, há na identidade um clima que se constrói e no qual se é construído. Uma celebração em que se modifica para ser modificado. Os objectos, desses momentos, são corpos que revertem em beneficio pessoal, e,  rejeitam-se  como inúteis,  os que não, nos satisfaçam, de imediato, o desejo. De quê?

De representar, um individual capaz de nos reanimar sempre  do que se sente e do que se imagina, desde os encontros mais longínquos aos encontros mais recentes. E com isto, fazer uma história do quotidiano em que a expressão possa ter mais forma que o conteúdo. Uma visão romântica do mundo onde a beleza seja sempre cobiçada.No contraste com as outras vidas.

 


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

 

                                                                                                           ( Henri Cartier Bresson)

         “ O que é a escola secundária? "

         “ Uma escola importante que vem depois da escola média (*)

 
 Muitos anos depois, desta pergunta, ainda erámos amigas. Acontece, que, até aquele momento, só tínhamos trocado ideias sobre os personagens que gostávamos e sobre as frases que aprendêramos de côr. Nessa altura, uma mão segurava a roca, e a outra, o namorado que parecia crescido. Nas duas a alegria das coisas novas. Tudo olhares e poses. Crescemos num mundo onde acreditávamos estar a tirar o melhor.

Nos anos, que se seguiram, encontramos outras coisas urgentes, e respiramos outro ar. Por  isso, muitas vezes  evocamos a  alegria de crianças, a, memória dos cheiros da casa. Rimos das frivolidades, das alegrias fingidas de alguns adultos, das suas dores falsas, do gesto de acenderem uns aos outros os cigarros com as mãos em concha. Do pátio a descoberto cheio de plantas onde se podia comer no Verão. Tudo lições de amor, que  fizeram desvalorizar os pequenos delitos e as cobardias das pessoas que conhecemos, que adoramos e que trazemos até hoje no sangue.
 E, assim, a nossa vida, é tão grande como a fazemos.

  * A Amiga Genial , Elena Ferrante