quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
“ Gran Torino” , 2008
A América , esse lugar para onde se mudou a história
Walter
Kowalski, parecia-se, com a visão romântica de um país rebelde que não quer ser
ocupado. Reservado, tímido, de poucas palavras não dava afectos e cimentava
menos relações, afundado na trivialidade e até certo ponto desordeiro. A mulher
estava morta. Parecia, não haver nenhum engano da natureza ,
a cara não assentava na generosidade. O que havia para viver neste homem, eram as
ideias das diferenças de etnias, contidas e sustentadas por um frágil equilíbrio. Walter Kowaslki, tinha a sua parte no mosaico americano, era um
ex combatente da guerra da Coreia, ao volante de
um Gran Torino. Conduzia assim, pelo caleidoscópio Americano.
Faltava-lhe, conhecer, a contradição para ganhar
em vitalidade, faltava-lhe reconhecer que os E.U.A, serão sempre uma herança
reclamada por todos, pelos mais fracos inclusive. E, que, o maior triunfo, de
uma sociedade multicultural é ser capaz de dar visibilidade aos seus espectros.
Este filme fala disso. E muito bem.
Fala do desenvolvimento humano que estimula a
descoberta do pessoal, fala da conquista de uma linguagem comum. O relativismo
cultural, aparece em Thao Vang Lor, com uma aparente fragilidade, mas traz
desenvolvimento, e é este, que nos salva da morte, da aniquilação, e do
esquecimento e se necessário dá-nos a redenção.
Com ,Thao
Vang Lor e Walter Kowaslki , não demoramos a agradecer á importância da
diferença e a defendê-la, até á morte; Aprendemos ...” em tempo de pestilência:
que há nos homens, mais coisas a admirar do que a desprezar”. ( Albert
Camus) E que, essas fileiras de casas
não chegam a estar á distância de alguns quarteirões.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
“Have less. Do more”
Continuará, a haver sempre, uma serie de males, para manter vivas as
virtudes do homem, um deles é encontrarmos uma vida menos vasta que os nossos
projectos e mais enevoada, que os nossos sonhos. Contudo, nunca se esteve, tão
perto, como agora, de encontrar o equilíbrio necessário, entra a distância e a
intimidade com as coisas. Há, uma necessidade de reduzir espontaneamente as
formas. Não se trata de austeridade, concisa e rápida, mas sim de uma
governabilidade, mais espiritual, que tenha, como base de expressão poucos
elementos fundamentais. E, fundamental é mesmo assim; o quanto basta, para retirar mais.
Ainda me lembro, e sem desprezo,
da geração “ beautiful people”, vinda da transição entre velhas e novas burguesias,
cheias de “representação”. E, por mais que, o tal, jogo de espelhos ampliasse, o molhe de chaves
pousado na mesa do telefone com a cabeça de couro e as múltiplas pernas em
metal, ou o jarrão de cerâmica com flores, ou ainda o material sintético da
alcatifa, estas criaturas míticas, só serviram para lembrar , a brevidade e a
transição. São representações directas, mais ou menos firmes, com ar de
espectáculos públicos a fazerem parte do cortejo que dura menos tempo.
Deste
velho, “edifício” que serviu para transformar,
tudo na vida , só para que, tudo fosse, materialmente possível, resta pouco. As
novas “arquitecturas”, pessoais e sociais são projectos mais silenciosos, com redução formal. São,
essências, que se, deixam transportar,
até um destino “fabuloso”. Talvez por isso , o que não fomos até agora, seja
ainda , o que melhor nos define. Como Amélie.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Era inevitável”. Florentino e Firmina Daza, não
se tinham cumprindo até então, na verdade não se tinham esgotado. Foi por isso,
que o tempo de serem jovens se prolongou apesar de todos os artifícios do
passado.
As primeiras coisas, se nos ficam, gostamos de
as viver, através de um tempo distorcido, até mesmo através de outros, como se
mergulhassemos, na penumbra, do que
deixou de ser urgente. Florentino, quis, recordar o destino dos amores
contrariados, ás vezes, fazendo turnos mas, sem nunca se deixar atenuar. E
sabia que, o que o contrariava só
trazia os factos como eles são; um bocado de trabalho duro e mal pago e a
Firmina a interdição a comportamentos impetuosos.
Florentino, acreditava que o que se faz
sozinho, não tem magia, não tem influências, por isso precisou de
Firmina e foi buscar esse pedaço de prosa que havia guardado na memória
e que tanto plagiou, até somar “… 51 anos, nove meses e 4 dias “ de procura.
Esta procura, foi uma experiência , singularmente certa, uma promessa de
futuro que ganhou a todas as necessidades do momento, e , por muito
tentadoras que estas tivessem sido, não chegaram tão longe.
Não basta nascer no lugar, é preciso
transformar o lugar. Arranjar, maneira de entregar a carta e deixar que esta
floresça alguma coisa no espaço dessa memória. E, o mérito de quem a recebe, é
levar-nos á letra e ser capaz de duvidar que essas tenham sido as ultimas
palavras. E este foi, talvez, o mais difícil triunfo de Florentino; esse “
caçador” solitário.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
“I´m Bonnie Parker and this here is Mr Clyde Borrow. We Rob Banks"
A cidade não era superior ás suas forças. De uma ponta a
outra nas ruas, não passavam mais do que miúdos, prostitutas inexperientes,
devassos e catequistas. A Grande Depressão, armas roubadas, um quarto alugado e
Bonnie e Clyde já tinham uma vida. Uma vida, que vale a pena mencionar, não
importando que, para além daquele lugar, não houvesse mais nada a que pudessem
chamar seu.
E, de onde vêm todas as partes que os compõem? Da diferença.
E, a diferença, deu-lhes a esperança de não terem compreendido completamente a
vida nem as pessoas. Bonnie e Clyde, quebraram tabus e foram apreciados mesmo
quando passavam da violência ao humor e vice –versa.
Bonnie e Clyde , tinham, a atracção das pessoas, que, têm, o seu próprio
fogo e que, por mais, que pensemos, que estas, nos podem amar, por mais, que
nos jurem fidelidade, ou á família, ou ao país, esse fogo só arde para eles
próprios. São, estas pessoas que mudam as nossas vidas, que desafiam as
fronteiras do correcto e do incorrecto. Foi isso que teve Bonnie , a loira atraente e, com facilidade na escrita, que
encontrou em Clyde Barrow o bandido a
seguir. Na brutalidade impiedosa, na revolta contra a miséria, na imperfeição.
Não sei, se Bonnie e Clyde, tentaram encontrar, o momento exacto em que cometeram o
seu primeiro erro. Mas sei que, foram um imaginário, de paixão, e crime para
a cultura Americana. Um par romântico,
de heróis modernos, que se escreveram pelas suas próprias palavras, em; “ wanted lovers” (
the intimate correspondence ). Um par, uma vida.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
“candy-coated”
Há marcas, que se
tornam no sinónimo do produto, a American Chicle Company, fundada por Thomas
Adams é uma delas. Mascar em parte, tornou-se num recurso social relaxante que
calhava bem como terapia pós grande guerra. E assim, a princípio, o potencial
comunicativo desta marca, foi dirigida a
um publico, flexível e inquieto que se dizia destacar, dos
restantes, que não mascavam, como sendo mais simpático e descontraído.
A ideia, que quando
mascamos parecemos mais rápidos recaí sobre um publico jovem. O que é certo, é
que, nada destas percepções dependem só do criador da marca, mas em grande
parte de todos os envolvidos. Para evitar, a rebeldia e rapidez do movimento de
mascar, só para“ deitar fora”, os Americanos, há uns anos, apostaram na reinventaram
o produto com sabor prolongado, e lançaram um
apelo á recolha e guarda das respectivas embalagens pelas escolas, premiando,
quem mais reteve em quantidade das mesmas.
Por cá, o que eu me
lembro de gostar, até hoje, na Chiclet ;
é só a ideia de “ … uma coisa que promete, mas, que a gente, vê sempre … como
uma Chiclet”. Um produto, para mim sempre “ acabado”. Sem duvida, um consumo que tem todo interesse em
permanecer como é; Imediato.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Vibrações escondidas
Se formos, pelos clássicos, a
expressão “ Lugar Comum” tem validade discursiva, e o poder diferenciador que o
moderno não lhe reconhece. Lugares Comuns, não são necessariamente “Cliches”
até, porque nem o passado é sempre rígido nem o futuro um lugar completo a
habitar. Há, sempre zonas, que recorrem a outras, pelas várias coisas que têm
entre sí, mesmo quando não as planeamos para o efeito.
Aqui estão; os Lugares Comuns. A, princípio,
parecem, não ser mais que partes diminutas, mas quando lá estamos, nunca padecem de
intensidades na proporção inversa. Ficam maiores, irremediavelmente pelas
semelhanças. Foi assim, que “ Howard
sentiu imediatamente que as coisas não eram tão absolutamente medonhas como
tinham parecido vinte segundos antes “ ( Zadie Smith em “ Uma Questão de Beleza
“)
Podemos, sempre, ver, o aspecto, que as nossas
diferenças têm para os outros e passar a enumerar as barreiras nunca
esquecidas, mas neste exercício, os lugares crescem sempre, em imagens, e, estas, são, um pronúncio do que está para vir. Sem nunca se
contradizerem, os “lugares comuns”, não sabem disfarçar simpatias fortalecidas
ao longo dos dias. O resto, é como nos romances, vontade de não declinar os
encontros marcados; de raças, de religiões e sobretudo, de lados obsessivamente,
remoídos pelo presente. São, como encontros de amores parciais, com vidas vividas em vários graus.
Esta, genuídade na existência do quotidiano é mais vivida do que representada, e, acolhe-nos
em expansiva familiaridade. Por isso, o que estas
pessoas , desconhecem, são os
hotéis dessas cidades porque
simplesmente , nunca têm de la ficar.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
“Desejei penteá-los por todos os
séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um
número inominável de vezes. “
As tranças fazem-se de relações exclusivas com
o cabelo, mais do que penteados, são símbolos de estatuto e por vezes de riqueza
civilizacional. O cabelo nas sociedades Asiáticas e Ameríndias foi vivido como uma
extenção, das ligações entre pessoas e grupos e com um poder, associado também á espiritualidade.
Feitos ou desfeitos, os penteados são símbolos
de pertença nas sociedades, e, capazes, de atravessar um território que vai da infância á velhice, da antiguidade aos nossos
dias, tornam-se molduras do rosto que nos acompanham para a vida. Cabelo; princípio
de autoridade, glória e sorte para a mulher, voz de comando; um nome que recebe
sempre respeito.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Pouco depois de sermos
crianças
A minha primeira recordação de aprendizagem é
este contacto protegido e tímido com as coisas. Raramente, alterava esta forma de andar, tensa, balançada
e projectada para a frente. Coração a galope, e por cima o melhor vestido. Ainda longe, do discurso vivo, com que
mais tarde pedia para levarem a minha mala para o quarto da frente, para ser uma visita
por uma temporada.
Importa que, naquele ano, recomeçaram as aulas, e já, nos
deixavam ler e escrever, os progressos, diziam–me, que, quanto mais eu
crescesse melhor seria a escola. De princípio, experimentei esta relação
afectiva na aprendizagem e muitas vezes a lembrei ao longo da vida. As
pessoas, com quem aprendi, via-as
como alguém que me estava a ler o pensamento, como se estas conseguissem
adivinhar que eu seria capaz de fazer muitas frases completas, com decisões
todas minhas. Depois disto, já não me importava com os adultos, que diziam
coisas mais demoradas, decidi esperar para compreender esse ritual. As minhas
ideias haviam chegado, embora eu demorasse uns minutos a dar-lhes a forma. Será
que algum dia, eu ia parecer-me com uma mulher? Se calhar convinha usar sapatos
mais vezes .
De qualquer forma, já
sabia coisas que não podia contar. Admirava a graça das pessoas e os seus
acontecimentos especiais. Ás vezes, recorrendo ás minhas melhores maneiras aproximava-me
dos adultos, em especial, os homens, e, por curiosidade fazia perguntas para
saber se eles teriam guardado aquela sabedoria, toda, que os compunha, num
sítio, ao qual pudessem recorrer para
não se esquecerem de nada. Os adultos nunca discutiam nada comigo. Eu é que
desejava isso.
As nossas vidas, têm
sempre uma rotina tão familiar desde ir á escola, brincar, e estudar até aquele,
ultimo dia, “ …uns anos mais tarde, em que ela poria a nota do seu falecimento
na cómoda do quarto dele, onde a cama continuava ainda bem feita, a prateleira
cheia de livros baratos de cowboy, e uma fotografia da escola espanejada todas
as semanas pelas criadas “ ( O Filho”, Philipp Meyer). Todas as histórias
verdadeiras têm vários fins possíveis.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Vicky Cristina Barcelona,
woody Allen
“ Juan Antonio,
flies himself, for sight-seeing, fine eating and drinking, and hopefully,
love-making…”
Woody Allen é Americano de origem
Judaica, gosta de escrever para as mulheres, com uma escrita, que vem da
inspiração que o feminino lhe dá. Eu, sou Europeia Católica , nascida, numa cidade cheia
de luz , encaro as coisas da maneira que aprendi , em estilo livre e a fazer sozinha. Sempre que posso, volto aqui, a
este filme, como se tivesse um contrato de ocupação sem nunca ter pago o preço
de admissão.
A primeira recordação, é; a de um
fim e semana que mudou estas vidas, desenhando novas
descobertas para quem acha que está a perder coisas que nunca teve. E, estas, três
vastas existências; Cristina, Vicky e
Juan António, de uma maneira, ou de outra, criaram vários momentos e
experimentaram, variações bruscas, más noticias, acontecimentos mágicos e
pesadelos. Acompanharam as mudanças e deixaram espaço para voltar.
Nos várias promessas, vividas com “ Vicky,
Cristina Barcelona” , desde a sensatez , á pura emoção, procura-se uma resposta
que esclareça todas as configurações emocionais. Procura-se; a experiência. E, que esta, seja, como se encontrasse-mos uma
casa pronta, e essa casa fosse nossa, e descoberta em devido tempo e em certa velocidade, como uma notícia nova, uma notícia diferente, que
provoca um espanto sombrio e que nos leve para lá a qualquer momento. A
qualquer momento mesmo. Talvez o seguinte. “ you´ve got to get lucky”.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
" The Unbearable Lightness of Being"
Milan Kundera 1984
Esta imagem, é o que esperamos que ela seja. A
figura da leveza e do pisar pouco espesso, com um truque de realismo magico. A , “
insustentável leveza”, não despe a vida de sentido nem adivinha fragilidade . Pisar assim, sem depositar a própria
vida, provoca presença e ausência , pronúncio de fantasia e liberdade absoluta.
A
leveza, guarda o peso mais complexo e definitivo; o da nossa própria existência, e este combate, pelo qual
lutaremos o tempo que fôr preciso, é impossível de imaginar sem saber que “Há
coisas que só se podem fazer com
violência e a ;" sensibilidade deve
ter “ forças para dar ordens”.
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