quinta-feira, 30 de outubro de 2014


 “ The Dreamers “

   Bernardo Bertolucci - 2003


  “Some men see things the way they are and ask ‘why’?

   Others dream of what’s never been and ask ‘why not’?”

    (Robert F. Kennedy)

Sabem, aquela definição da Droga, como substância magnetizante, estimulante, provocadora, inspiradora, eufórica e fascinante? No fundo, uma exposição generosa que percorre, sem vergonha, todas as nossas fantasias? Mais, a ideia de uma  curiosidade arrebatadora, por uma solução ilusória que não nos faça, temer a densidade e a impureza do “alimento”, mas sim a impureza da avidez ?
 Significa que, tudo, deve, ser explorado, através de experiências individuais, de consumos, que nos prometam euforia e satisfação, porque todos os objectos que consumimos não são conclusivos. E praticar isto, ás vezes, sem afectos, que, como dizia Léautaud; são, o  “amor dos mornos”.

 Para escapar, por momentos, á panóplia de decepções das várias decomposições da vida burguesa, da vida conjugal, dos costumes, da moralidade convencional e das suas transgressões na sociedade moderna e pós- moderna, é preciso viver uma inquietação, e uma instabilidade assistida, que propícia, “movimentos” sofisticados e polémicos com “ roteiros”, que esperamos, que nos tornem mais completos, por conseguirmos ir até onde ainda não tínhamos ido e tocar onde ainda não tínhamos tocado. È desta promessa de satisfação final, que se fazem  as grandes procuras.

 Devo muito, a alguns “ perigosos” e “elouquecidos” “babitantes”, de experiências ousadas, como por exemplo, o cinema de Bernard Bertolluci, ou Stanley Kubrik, que me criaram a necessidade de, privar com a “transgressão” versus “convenção”. Foi graças; a “ 1900” ; a “ La Luna”; ou á  “ Laranja Mecânica”,  que eu me lembro, de ter uma, experiência individual, arrogante e gélida, falsa e assistida por várias satisfações. E foi, pela mão, precisa destes comparsas e figurantes episódicos, que assinalam muita ambiguidade e invertem as questões, que eu por momentos entrei no mundo deles.

Por curiosidade. Por intensidade. Foi graças, a estas experiências, por mundos de memórias e contradições, de angustias breves e de majestosas epifanias, que eu me lembro, de ter outras vidas possíveis, sem destinos fixados. Tal como; "Lucy  in the Sky With diamonds”. Depois dos Beatles.

 

 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014




Brutti, Sporchi e Cattivi"

      Ettore Scola 1975
 
 Para, quem gosta, de rir da liberdade linguística e intimismo Freudiano, o cinema Italiano esteve lá. Ettore Scola,  tratou  em “ Brutti, Sporchi e Cattivi"  da questão entre relações do género, feminino e masculino com a mensagem que as mulheres, não devem alhear-se do seu papel de subjugação no mundo em que vivem, isto  num  contexto social  de divisão capitalista do trabalho em Italia. E, para apreciar,esta, atitude é preciso ter a vontade de encontrar o riso na desvinculação dos princípios morais da sexualização. Eu tenho.
 
 È preciso, não temer, o domínio que é atribuído ao homem pela divisão sexual do género, que, faz com que este seja um incorrigível, consumidor, do feminino enquanto a existência do mesmo possa servir a sua sobrevivência e suprimir as suas necessidades.
 Esta codificação social, em contexto, também é capaz de me arrancar o riso. Acredito que há muitos recursos de atitude que não estão desenhados para o feminino, mais,  os acessos desiguais, serão sempre, uma realidade em algumas matérias.

 Neste filme, foi preciso primar pela escassez da ética para manter o equilíbrio de poderes, ao mesmo tempo, que, foi dada muito pouca liberdade  aos intervenientes,  por forma a que a submissão, pudesse, ter, um ambiente de realização pleno de cinismo, de corrosão e de devassidão. Tudo, alimentado,  por um notável diferencial de expectativas entre comportamentos, feminino e masculino.

 Pela sugestão, de uma fantástica linguagem, esta sátira cinéfila, sem cosmética, nem rodeios, é arrebatadora. Brutti, Sporchi e Cattivi", tem um tom burlesco próprio para encenar um festival de atrocidades. E, com pouco espaço, para a criatividade, parece ser um derivado da lógica. Pessoa dizia, que; “ Nada que seja arte, resulta de uma aplicação da lógica”. Há excepções.

 

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

“ A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento”
 Florbela Espanca
 Contraste fortuito que parece um sarcasmo. È a Ironia. Sensível e refinada. Aparentemente valorizante, serve para desvalorizar. Parece que nunca ninguém tem o que precisa. Quem faz ironia, só tem uma intenção; desarmar pelos enunciados. Promete concretização mas torna-se  irresistível pela idealização. 
 È, para quem quer amar a própria imagem. A ironia é um narcisismo. Como; o professor  Aschenbach, no filme; “Morte em Veneza “, quer amar a sua própria imagem de beleza “…. aquele sorriso profundo… com o qual abre os braços ao seu próprio reflexo”,  através, de Tadzio, o seu objecto de desejo por quem se apaixona. A atitude irónica, carece de um reportório, umas vezes para o trágico, outras para o cómico e tem especial  gosto em repelir a hipocrisia, eternizando uns momentos e dissolvendo outros, porque louvar emoções não significa reproduzi-las. Existe sempre o paradoxo da impossibilidade e foi assim que  Aschenbach, morre ser ter Tadzio.
  Ser irónico, tem disciplina e tem vaidade; é um lugar” bem escolhido “, uma força de atracção Irresistível, “.. um sorriso coquete, curioso e levemente atormentado, louco e enlouquecedor…por vezes , um presente fatal” . Uma forma elegante de ser mau.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

 


“o comprimento das coxas é a imagem metafórica do caminho, longo e fascinante (é por isso que as coxas devem ser longas) “
 Milan Kundera

 Lembrei-me, que Kundera voltou a escrever com vigor e criativo; “A festa da   insignificância”, fala do  riso e do erotismo  e deixa  alguma nostalgia por décadas em que “ o centro da sedução feminina”, estava nas “coxas, nas nádegas ou nos seios “. Foquei-me nos dois primeiros. A mulher, tem uma natureza, naturalmente erótica, e, ao seu erotismo corresponde uma narração e uma visualização que a torna desejável e interessante. Pode ser um gesto, meia frase, uma postura.

 Os libertinos, com maior, ou menor, moderação na linguagem e descrição nos gestos, vêm o erotismo associado a esta prática, com uma submissão aparente aos seus usos, para que se faça da estratégia do desejo um culto da vontade. Uma realização. E muito bem .Neste “savoir-vivre libertain”;  são os instintos a implicar o corpo e o  corpo a ser  percebido pela experiência da  linguagem. Até os heróis de Dostoievsky, bem longe, de tocar este drive lutam; “ pela liberdade e pela fantasia.
 Com alguma afectação, e sem pudor, o corpo toma-se como uma especialização de saber, porque, antes demais, no erotismo a obscenidade, é complexa e a fantasia, galante da grosseria é um apelo que temos dificuldade em definir. Tem demasiadas garantias ao contrário da “ coqueteria”. Dizia; Woody Allen que:  “ A pornografia é o erotismo dos outros”. Ou ao contrário. Depende da luz e se nos estamos mais ao perto ou mais ao longe.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014


“It Tastes Like yours but sweeter”

Este supermercado no Canadá, serve o propósito dos já conhecidos, mas para melhor. Forma  uma imagem, contada por produtos diferenciados e objectos atraentes, que nos fazem retirar mais benefício quando os compramos. Uma estética inseparável do quotidiano com design exclusivo e arrojado. Agrada-me esta superfície. Dizia Platão que: “ tudo o que é utíl para nós,deve ser belo”. Desde a Grécia que esta sinalização foi compreendida para ser aplicada, em algumas  sociedades,  a partir dos anos sessenta.

Esta experiência cultural, que é, comprar pressupõe um atitude diferenciadora, á semelhança   da diferença entre turista e viajante. Este consumidor coloca-se como atento, curioso, crítico, disponível para experimentar coisas novas. È sofisticado. E quando compra vive um momento perceptual de prazer. Daí a versão; ´” é igual ao teu mas mais doce".
 

"También somos lo que hemos perdido".

  ( in Amores Perros)

 A vivência fragmentada, brutal e inteligente é a que nos traz mais esperança. Sem lugares comuns a felicidade chega rude, intensa e repleta de energia. E, nas vidas anónimas encontram-se as mesmas coisas que não foram nas nossas vidas, mostra-se, a vulnerabilidade e complexidade da existência humana. Somos feitos também do que não conseguimos e isto não nos faz render, faz-nos entreter, cria vários momentos de avanços e retrocessos. De busca. Quem procura tem a coragem de se reinventar, de se desvincular para ter encontros que mudem para sempre as nossas vidas.

  El Chivo, personagem ( vagabundo ) do filme “ Amores Perros” foi feliz, a partir do dia em que resgatou )  cofi ( cão) para o tratar e curar, esta relação com o animal devolveu-lhe o afecto e o instinto que precisava para deixar de matar a soldo e voltar á família. Uma apaixonada decisão nos limites da liberdade e longe, muito longe, do murmurado ” quase me tocas”, ”quase te toco”. Na violência pode faltar muita coisa, menos um golpe de asa. Este filme lembra isso.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

 

“ Este tempo passou, embora seja o nosso…”

( Javier Marías ; “ Os Enamoramentos” )

Há coisas que demoram o seu tempo, e uma delas é a retoma de períodos históricos, de momentos de grandes mudanças, de preceitos, de cerimónias, de celebrações. Foi isto, que em parte se quis fazer nestes anos 2000.

 Para quem não sabia de nós, éramos, a geração da saúde e do culto do corpo, da economia próspera que assistiu ao atentado do word Trade Center. Do Pós –Modernismo e da Internet , tudo um “mix feelings” com uma grande nostalgia cultural, trazida pela globalização ás economias.  Uns dias, consumistas superficiais e outros ambientalistas e anti -globalizantes. Deu nisto, o revivalismo do sonho Americano já sem a geração beat, que vivia mais do  lirismo do que  do realismo.

 E, já sem “ Paz e amor” para dar,ficamos cada vez mais ácidos, das experiências da droga, da perda da inocência e do que nos foi exigido para erguer e protagonizar a  indelével  revolução sexual.   Inclui-se, nesta: a cultura gay, o movimento Punk , o transtorno de viver a geração Aids e ainda, todo o preconceito e intolerância de muitos envolvidos. Na altura, fomos hedonistas  e individualistas. Sem  compromissos. Era o Niilismo, com muitos “ super -Homens”, idealizados  pelo  cinema que  deram filmes de catástrofe. Pragmáticos e agressivos que protagonizaram  adultos mergulhados nas almas dos seus personagens. Nada de “ cinema teen”, como nos idos anos oitenta.

Vidas, só se aceitam sem constrangimentos, foi o “mainstreem”, até ao olhar do cinema independente americano que pega no mito do eterno retorno,  a alguma integridade perdida; essa contracultura sexual  que ficou lá atrás, refém da “ Paz e do  Amor” e deu no “ Shortbus”, que pode não ser, do melhor que o cinema  já viu,mas explora o desejo sexual de forma hedónica e bem humorada.

O que confunde, é que o sexo aparece como uma ultima tentativa de afecto, de preenchimento de vazio existencial , provocado em parte pela fragmentação da sociedade Ocidental.  E isto, pode ser muito da inocência que existe dentro de nós. Daquilo que nos faz realmente mover. È pueril. O erotismo perdeu espaço, e a líbido foi formatada e massacrada pela civilização, que deixa um prazer imediato e rarefeito. Só aparência, sem espaço para a memória e principalmente para a liberdade de viver o imaginário. È a solidão. O desprazer pós-sexo, por vezes um terror contemporâneo. Um gosto amargo, sem contraste do doce. Como diz o dono do clube shortbus; “ È como nos anos 60, mas com menos esperança”. E disse tudo.


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

 
"não encontramos mais do que aquilo de que precisamos profundamente"
(Walter Gropius)
 Apesar, de permanentes ameaças e de castigos sem fim, Telavive, a; “Cidade Branca ”em Israel consegue manter um dos maiores espólios de arquitectura Bauhaus em todo o Mundo. A imagem Bauhaus, perpetua, o espírito da época dos anos vinte; uma atitude acelarada para festejar a vida.
 Após 1918, surge na alemanha a Staatliches-Bauhaus, um movimento que  influenciou a Europa e a América do Sul para fazer da obra do quotidiano, uma obra de arte. Uma diáspora arquitectónica e plástica a que aderiram aqueles que acreditavam em padrões de qualidade menos transitórios que as constantes mudanças da industrialização. Esta intervenção que prima pela anarquia da máquina e pelo sacrifício dos padrões “ reais “ de produção conduz á utilidade da ideia de “ belo” simplificada e de visual “ clean”, adoptado, hoje, por marcas, como a Apple.
Esta tensão “ orgânico-mecânica”, apologista de : “ less is more” teve os seus percursores;  Oscar Niemeyer que construíu Brasília, Van Der Rohe entre outros, bem como  Moholy –Nagy,  Klee, Sclemme através da pintura. Unidos pela ideia de disfrutar, diariamente, através das suas criações, da  “evidência  da  vida estética “ como uma “evidência da vida real”.
Construíram-se, assim, casas e edifícios para serem; “ maquinas de habitar” como define, Corbusier, vivendo uma conjugação perfeita entre arte e ciência. Na Bauhaus; (tua casa) disfruta-se, a “evidência da vida estética”, com tendências funcionalistas, que, pese embora, tenham sido em 1933 ameaçadas no  seu percurso pelo veto do regime Nazi ,  continuaram a ser conduzidas, por quem nunca, abdicou desta conquista arquitectónica repleta de liberdades, de avanços científicos e esplendor civilizacional. De conquistas.

sábado, 11 de outubro de 2014




 
“ every  time the suns comes down, my love comes down for you”
( in “ os ultimos dias de Pompeia E.G Bulwer-Lytton )
Quando as lavas de um adormecido Vesúvio ressurgem petrificando para sempre o quotidiano e as riquezas dos seus habitantes, outra coisa ganha vida; as mudanças feitas pelos heróicos personagens de Pompeia, entregues ao desfrute de alegres e imponentes imagens de prazer.
  E assim, ganham vida, as histórias atribuladas e os factos relevantes dos grandes amores. Por quem? Por mulheres com presenças naturais e mitológicas aparentemente acessíveis, autónomas libertas e desinibidas. São mulheres que reinam em romances marcados pela eterna busca de valores superiores que ultrapassem a própria história. Outrora, vítimas dos valores em decadência do Império Romano e ontem e hoje eventualmente atidas a outros abusos, que nunca as impediram de triunfar como beldades insolentes.
Mulheres de pés descalços, lábios abertos com decotes e lencinhos. Alegres e sensuais. Raparigas de casa, da praia, do mar, da vida. De toda a vida. Representam a juventude que teima em ficar pelo impudor, pelo riso furioso, pelos movimentos e apetites. São imprevisíveis e transtornadas, nos gestos do quotidiano.
 E principalmente aceitam o desejo dos homens a quem entregam  a “ chave”. Por vontade, não por submissão. Neste equilíbrio entre o mistério e a perdição são elas que reinam. Há mulheres destas assim. Eternamente modernas


 
The Kid
"A ação é geralmente mais entendida do que palavras..”
(Charlin Chaplin)
Dizer adeus é isto. Uma ausência inexplicável , um terror absoluto que nenhuma racionalidade controla, quando nos exigem que se tire do coração alguém que amamos. Prescindir dessa aceitação incondicional e positiva que são os afectos, desse, amor humano é mais do que se pode suportar. Na infância, os afectos garantem a sobrevivência, para as crianças nada é anormal. Os laços afectivos são fortes e duradores com as figuras afectivas que saem ao seu encontro. E, cada um, tem apenas e exactamente aquilo que cultivou, as crianças não têm memória de classe social, credo ou religião, só têm um “ melhor amigo ”e dele querem obter protecção.
Nesta incontornável e inolvidável imagem cinematográfica ,  não estamos só a ver um filme, estamos a ser vistos por ele. Estamos, também, a criar e a recriar um emaranhado de interacções, de comportamentos e de vínculos. Não, de um mundo abstracto mas sim de pessoas concretas, com quem se  estabelece  uma intimidade amorosa e a construção de uma relação emocional única. Que fica.
A infância, não vê nada dissociado e constrói um mundo relacional apoiado em afectos.  Tudo com o amor, cumplicidade, honestidade, humildade e simplicidade. Esta obra de charli Chaplin, mostra que o cinema mudo nunca foi partidário do silêncio absoluto, trouxe magia á tela e uma intensidade vital. Uma mímica e um alcance de imagem  que nunca ficaram  reféns da habilidade da  tecnologia sonora. Esta foi a sua maturidade; uma acção  ter a possibilidade de ser; “ mais entendida..”. Na minha opinião.




quarta-feira, 1 de outubro de 2014




“I`m forever blowing bubbles “

Havia frivolidade e desapego, conversas animadas entre mulheres que jamais saberiam os nomes umas das outras . Haviam oportunidades perdidas e haviam oportunidades deixadas, mas principalmente uma condição ; não havia “ ..segundo  acto na vida Americana” como disse S. Fitzgerald . A mulher da Belle Èpoque , vive  de uma atmosfera luminosa e não quer perder a juventude. Não quer perder nada.
Gosta da moda e do espectáculo, fuma, bebe, dança  Charsleton e Fox –Trot . Vota. Chamaram-na  de “ Flapper” por ser tão participativa e ao mesmo tempo desapegada da vida .  Procura o amor atrás das portas ou das cortinas em jeito de boneca ou corista sem nunca perder as plumas, e até, tem na ideia parecer mais velha.

  A “ Flapper” pode estar perdida ou ser capturada mas nunca quer ser resgatada . Gosta de ser o espectáculo e o drama, desde que, encenado no exagero, pois só este reconhece o que ambiciona;  a  vantagem. De facto, o que perseguia  a época e o que perseguia Gatsby  era a  “…. Abominável poeira que pairava sobre os seus sonhos…”  (  S Fitzgerald in the Great Gatsby)