quarta-feira, 15 de outubro de 2014

 

“ Este tempo passou, embora seja o nosso…”

( Javier Marías ; “ Os Enamoramentos” )

Há coisas que demoram o seu tempo, e uma delas é a retoma de períodos históricos, de momentos de grandes mudanças, de preceitos, de cerimónias, de celebrações. Foi isto, que em parte se quis fazer nestes anos 2000.

 Para quem não sabia de nós, éramos, a geração da saúde e do culto do corpo, da economia próspera que assistiu ao atentado do word Trade Center. Do Pós –Modernismo e da Internet , tudo um “mix feelings” com uma grande nostalgia cultural, trazida pela globalização ás economias.  Uns dias, consumistas superficiais e outros ambientalistas e anti -globalizantes. Deu nisto, o revivalismo do sonho Americano já sem a geração beat, que vivia mais do  lirismo do que  do realismo.

 E, já sem “ Paz e amor” para dar,ficamos cada vez mais ácidos, das experiências da droga, da perda da inocência e do que nos foi exigido para erguer e protagonizar a  indelével  revolução sexual.   Inclui-se, nesta: a cultura gay, o movimento Punk , o transtorno de viver a geração Aids e ainda, todo o preconceito e intolerância de muitos envolvidos. Na altura, fomos hedonistas  e individualistas. Sem  compromissos. Era o Niilismo, com muitos “ super -Homens”, idealizados  pelo  cinema que  deram filmes de catástrofe. Pragmáticos e agressivos que protagonizaram  adultos mergulhados nas almas dos seus personagens. Nada de “ cinema teen”, como nos idos anos oitenta.

Vidas, só se aceitam sem constrangimentos, foi o “mainstreem”, até ao olhar do cinema independente americano que pega no mito do eterno retorno,  a alguma integridade perdida; essa contracultura sexual  que ficou lá atrás, refém da “ Paz e do  Amor” e deu no “ Shortbus”, que pode não ser, do melhor que o cinema  já viu,mas explora o desejo sexual de forma hedónica e bem humorada.

O que confunde, é que o sexo aparece como uma ultima tentativa de afecto, de preenchimento de vazio existencial , provocado em parte pela fragmentação da sociedade Ocidental.  E isto, pode ser muito da inocência que existe dentro de nós. Daquilo que nos faz realmente mover. È pueril. O erotismo perdeu espaço, e a líbido foi formatada e massacrada pela civilização, que deixa um prazer imediato e rarefeito. Só aparência, sem espaço para a memória e principalmente para a liberdade de viver o imaginário. È a solidão. O desprazer pós-sexo, por vezes um terror contemporâneo. Um gosto amargo, sem contraste do doce. Como diz o dono do clube shortbus; “ È como nos anos 60, mas com menos esperança”. E disse tudo.


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