Compreende? Começa assim, a “
Amante Holandesa”, um livro que nos desafia mais a valorizar as sensações causadas, do que aquelas, que são
verbalizadas pelo autor. Rentes de Carvalho usa uma linguagem directa,
impressionista, mas deixa espaço para a imaginação. Melhor; dá-nos liberdade .
Não me lembro do dia em que li este livro, mas
sei que, o tempo narrativo passou depressa, através da conversa que o autor
estabelece sobre a história de dois conterrâneos com quase sessenta anos. Um
deles, professor, que nunca renunciou a uma vida comoda mas sem recursos
emocionais, é um homem sem coragem, e outro; Gato, que emigrou para Holanda
para ser estivador e aí teve uma amante. A magia, deste ultimo personagem,
opõe-se á palidez do outro, avaliando-se o vazio que pode existir na vida daqueles,
que nunca fizeram nada de arriscado, tudo isto, ligado pelo efeito de uma amante
holandesa, que pretende em ambos dar-lhes a ilusão de que o amor existe. E
consegue, pelo impacto desafiante que o relato de um tem no outro.
È uma história do imprevisto,
cujo personagem principal é um pastor, sem culpa por não ter estudado e, por
não ter, uma casa cheia de livros com o pronuncio da sabedoria de todas as
profissões. Gato, só tinha uma coisa invejável; a firmeza, e era com esta que
..” pedia ameaças ao mundo…”. Só realizou um sonho, mas soube dar-nos mais. E
dar é uma superioridade recomendável. Gato, deixa-nos a ideia de ser um fim de
tarde …” com uma ilusão de criança que vivia uma vida de Homem”. Gato, tinha
saudades, porque foi capaz de viver a melhor coisa que lhe aconteceu na vida ; uma
mulher. È angustiado, no regresso á aldeia porque esta não o compreende, mas no
isolamento consegue tréguas com os seus fantasmas interiores. Quer ser feliz. E este convite é irrecusável.
Aniquilou-se, pela ilusão de um amor obsessivo,
por uma amante que nunca conseguiu prender contra sí, por muito que lhe tenha
estendido os braços. Clarisse ; a amante Holandesa ensina a uns, e relembra outros que, tudo tem um preço
e tudo tem um fim. E, Gato, o pastor
emigrante ensina, que, por só se ter realizado um sonho não se falhou a vida. È
uma história de poder, entre um homem e uma mulher, vivida sem pudor e
terminada sem culpas. Um recomendável desafio a presumíveis principiantes.
Defende a atitude , do “mata-te que isso passa-te”. E antes de mais, que, tocar,
a amante, “ …a resplandecer de beleza …” pode ter mágoa. Convida-nos a enamorarmo-nos
pela ideia da crueldade bem calibrada, e que mesmo quando o “ sexo foi ontem “, ser fugaz não implica desconforto, e isto pode ser
vivido. *“ je ne suis pas heureux, mais
je me sens bien”. Ninguem se prepara o suficiente para esquecer isto.
* ( marquês de sade em carte ao
seu procurador)
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