quarta-feira, 4 de junho de 2014

A “ Amante holandesa







Compreende? Começa assim, a “ Amante Holandesa”, um livro que nos desafia mais a valorizar  as sensações causadas, do que aquelas, que são verbalizadas pelo autor. Rentes de Carvalho usa uma linguagem directa, impressionista, mas deixa espaço para a imaginação. Melhor; dá-nos liberdade .

 Não me lembro do dia em que li este livro, mas sei que, o tempo narrativo passou depressa, através da conversa que o autor estabelece sobre a história de dois conterrâneos com quase sessenta anos. Um deles, professor, que nunca renunciou a uma vida comoda mas sem recursos emocionais, é um homem sem coragem, e outro; Gato, que emigrou para Holanda para ser estivador e aí teve uma amante. A magia, deste ultimo personagem, opõe-se á palidez do outro, avaliando-se o vazio que pode existir na vida daqueles, que nunca fizeram nada de arriscado, tudo isto, ligado pelo efeito de uma amante holandesa, que pretende em ambos dar-lhes a ilusão de que o amor existe. E consegue, pelo impacto desafiante que o relato de um tem no outro.

È uma história do imprevisto, cujo personagem principal é um pastor, sem culpa por não ter estudado e, por não ter, uma casa cheia de livros com o pronuncio da sabedoria de todas as profissões. Gato, só tinha uma coisa invejável; a firmeza, e era com esta que ..” pedia ameaças ao mundo…”. Só realizou um sonho, mas soube dar-nos mais. E dar é uma superioridade recomendável. Gato, deixa-nos a ideia de ser um fim de tarde …” com uma ilusão de criança que vivia uma vida de Homem”. Gato, tinha saudades, porque foi capaz de viver a melhor coisa que lhe aconteceu na vida ; uma mulher. È angustiado, no regresso á aldeia porque esta não o compreende, mas no isolamento consegue tréguas com os seus fantasmas interiores. Quer ser feliz.  E este convite é irrecusável.

 Aniquilou-se, pela ilusão de um amor obsessivo, por uma amante que nunca conseguiu prender contra sí, por muito que lhe tenha estendido os braços. Clarisse ; a amante Holandesa   ensina a  uns, e relembra outros que, tudo tem um preço e tudo tem um fim.  E, Gato, o pastor emigrante ensina, que, por só se ter realizado um sonho não se falhou a vida. È uma história de poder, entre um homem e uma mulher, vivida sem pudor e terminada sem culpas. Um recomendável desafio a presumíveis principiantes. Defende a atitude , do “mata-te que isso passa-te”. E antes de mais, que, tocar, a amante, “ …a resplandecer de beleza …”  pode ter mágoa. Convida-nos a enamorarmo-nos pela ideia da crueldade bem calibrada, e que mesmo quando o  “ sexo foi ontem “,  ser fugaz  não implica desconforto, e isto pode ser vivido.  *“ je ne suis pas heureux, mais je me sens bien”. Ninguem se prepara o suficiente para esquecer isto.

* ( marquês de sade em carte ao seu procurador)

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